OS AMANTES

O dia caminhava. O turno da manhã havia acabado e eles se encontraram em uma das saídas do prédio principal, mais precisamente na lateral esquerda, próximo ao banheiro das meninas.
Os corações estavam em chamas, aguardando o grande momento em que poderiam se encontrar verdadeiramente pela primeira vez.
Estavam juntos durante a semana. Na parte da manhã no turno normal de aulas e à tarde noite no estágio que ela fazia com intenção de completar a carga horária dos estudos.
Desde o primeiro momento em que se viram, algo diferente aconteceu. Os olhos dele eram castanhos claro e grandes e seu sorriso era uma linda bancada de dentes bem organizados, branquinhos como leite. Tinha um jeito engraçado de lecionar. De uma inteligência acima do normal, as vezes, assustava os alunos, mas, sobretudo muito engraçado.
Pra ela então a coisa não tinha tamanho. Até o ar que respirava já era motivo para um suspiro adicional.
Naqueles tempos, a diferença de idade entre os dois era algo bastante expressivo, mas nada que fosse tão diferente do padrão social. Alguns quinze anos talvez. O problema maior era o comprometimento do rapaz. Vamos dizer que para os envolvidos na paixão isso contava muito pouco .
Na verdade, ela nunca foi ligada em conceitos sociais, virgindade, ou coisa que o valha.
Naquele dia ela havia extraído de uma revista a letra da música do Gilberto Gil, que dizia: Traga-me um copo d`agua tenho sede, e essa sede pode me matar... enquanto isso ele entregava um bilhete com o poema Não sabes criança, estou louco de amores, prendi meus afetos, formosa pepita, mais onde, no templo, no espaço, nas névoas, não rias, prendi-me num laço de fita.
Ele a chamava de criança, talvez pela diferença de idade, mas, não resta dúvida que ela sentia-se muito mais mulher que criança ao lado daquele homem que ela amava.
Naquele dia, marcaram seu primeiro encontro, para a terça feira seguinte, onde finalmente se encontrariam, quando enfim, ele a faria a mulher. a mulher mais amada do mundo.
Mas essa história eu conto depois.

Valentina Fraga