ADRENALINA
Pra falar a verdade, nunca vi um fantasma. Quando pequena, morria de medo das histórias que falavam de vultos perambulando por cemitérios. Ou saíam de lá atrás de alguém... que corria feito doido, até perder o fôlego. Depois contava para os outros e ninguém acreditava. E nunca mais se aproximava da casa dos mortos à noite. Nem morto.
Uma vez tive que passar sozinha, na penumbra da rua mal iluminada, e deserta, diante de um cemitério. Era meu caminho, não tinha jeito. Procurava não pensar nessas coisas, mas de repente comecei a ouvir uns ais. Imaginação?... Ou assombração?... Apertei o passo e atravessei a rua. Mas que perseguição! Meus olhos só encontravam uma direção: o portão. Fechado com cadeado estava, mas pra quem é de outro mundo não faz diferença não... Foi então que eu vi, juro, sair lá de dentro aquela mão. Que acenava. Será que me chamava?
Corri, claro! No escuro tropecei, quase caí. Nem adiantava gritar, ninguém ia escutar, a não ser “outros” que lá dentro estavam... Antes que se alvoroçassem e me alcançassem, entrei na casa da minha tia. Sã e salva. Livre das almas.
Isto aconteceu há muito tempo, aquela mão nunca mais me apavorou. Nem mesmo sei se foi verdade ou coisa inventada por cachola desmiolada.
... Até que uma noite dessas, já de madrugada, levantei-me, sonada. Tateando no escuro, buscando a porta, toquei em algo quente... um braço de gente!
Num zás, dei um salto pra trás. Assombração novamente? Não! Só podia ser ladrão.
Trêmula, com o coração na mão – sentindo um calorão - encolhi-me prendendo a respiração. E agora?
Foi então que a luz se fez. Na claridade, eis a pura verdade: meu marido ali estava, ele também, morto de curiosidade.
|