Roda, roda
roda o tempo
roda a vida
roda o vento
roda viva.
Roda a moça
bonita de vestido
rodado, de cabelos
de cachos e calcinha
rendada.
No jardim a sorrir
a cantar e girar
e colher uns jasmins
seu perfume cheirar.
Sem destino, sem voltas
sem nada a temer,
roda a moça
a crescer.
Mangueira
"acopando-se"
geme o riacho
o cãozinho latindo
e a moça de cachos.
Seria séria
serena, sorrindo
contudo, do vento
varrendo, varrendo
com o mundo?
Roda a moça
e o tempo
o livro na mão
poeira nos móveis
roupa suja e sabão.
Uma casa amarela
sem jardim
sem portão.
Numa cama deitada
eis a moça cansada
suspirando e sofrendo.
Roda a vida
e os sonhos
roda os santos e os sós.
Roda a moça
e o vento
roda a moça
morrendo
e o vento
varrendo,
no rodar...
solidão!
|