MEU SCARPIN VERMELHO
ELE CHEGAVA SEMPRE PERTO DA MUDANÇA DA CADA ESTAÇÃO. ERA UM MERCADOR, E A CADA TEMPO TRAZIA COISAS NOVAS. VINHA CHEIO DE NOVIDADES, TRAZIA MUITOS PRESENTES, E NA BAGAGEM, ABARROTADA DE SAUDADE, TRAZIA MILHÕES DE BEIJOS QUENTES E CHEIO DE DESEJOS. SEUS BRAÇOS TRAZIAM OS ABRAÇOS MAIS TERNOS E ACONCHEGANTES QUE UMA MULHER PODERIA DESEJAR. CADA CARINHO, COMPENSAVA O LONGO TEMPO DE AUSÊNCIA QUE A VIDA IMPUNHA AOS DOIS. UM SIMPLES ABRAÇO JÁ ERA SUFICIENTE PRA AQUECER O CORPO, E O DESEJO CHEGAVA COMO UMA ONDA QUE ENCHIA DE PRAZER.
A CADA ESTAÇÃO, VINHA COM VERSOS DIFERENTES, COM RIMAS CHEIAS DE RIQUEZA, MISTURADA COM PERFUMES, SAPATOS E VESTIDOS SÓ PRA ME AGRADAR.
HAVIA MUITO, QUE NÃO NOS VÍAMOS, DESDE A ESTAÇÃO PASSADA, TEMPO LONGO PRA QUEM ESPERA E MAIOR QUANDO SE AMA.
OS PRESENTES ERAM BONS, FINOS, DE BOM GOSTO, TRAZIA CAIXAS DE CHOCOLATES COM LICOR, NA INTENÇÃO DE ME EMBRIAGAR. PRA QUÊ? SE JÁ ERA TOTALMENTE INEBRIADA PELO AMOR QUE TOMAVA-ME OS POROS, AS CARNES, MÚSCULOS, OSSOS, E ARREMATAVA COM A ALMA, QUE ERA TOTALMENTE ENTREGUE ÀQUELA PAIXÃO SEM LIMITES.
CONTIDA, CAMUFLADA, ALOJADA DENTRO DO PEITO, SEM TESTEMUNHAS E CONFIDENTES QUE PUDESSEM TORNA-LA PÚBLICA. SÓ MINHA, EXCLUSIVAMENTE MINHA, SOLITARIAMENTE MINHA.
ALI ESTAVA, POSTA AOS PÉS DA PORTA DE ENTRADA DA CASA GRANDE, COM JANELAS ABERTAS A ESPERAR, TODOS OS MESES, DIAS, HORAS, MINUTOS, SEGUNDOS, PELO REGRESSO.
ELE RETORNA, VIRIL, DESEJOSO DO MEU CORPO, DA MINHA ALMA, DOS MEUS PRAZERES, DAS MINHAS CARNES MAIS QUENTES, DO MEU ORGASMO MAIS PROFUNDO,
DE LONGE, NOSSO OLHAR SE ENCONTRA, E MESMO ASSIM, FALA O QUE SENTE, SEM SUBTERFÚGIO, SEM RESERVA, SEM VERGONHA DE SENTIR O QUE SENTE.
O OLHAR DENUNCIA UMA FOME DE MIL HOMENS, UMA SEDE DE MIL CAMELOS NO DESERTO A BEIRA DO LAGO QUE É UMA MIRAGEM, E DISPOSTA A SACIAR, JOGAR-SE NOS MIL BRAÇOS IMAGINÁRIOS DO AMOR QUE MAIS AMA.
AGORA SOMOS UM DO OUTRO, APENAS, SEM LIMITAÇÕES, EU, ELE, MEU CORPO, O DELE, MINHA ALMA, A DELE, MEU DESEJO E O DESEJO DELE, TUDO MISTURADO DENTRO DE NÓS.
A CAMA DA CASA ESTÁ ARRUMADA , HÁ UM CHEIRO DE LAVANDA INGLESA NO AR. O CÔMODO É ACONCHEGANTE, PRÓPRIO PARA O AMOR. ELE ENTRA, E DEVAGAR, DETIDO NOS MOVIMENTOS, CUIDADOSO, ME TOMA NOS BRAÇOS, E NUM BEIJO ARDENTE, ROUBA MEU FÔLEGO, COMO QUEM SACA A ALMA DE DENTRO DO CORPO.
ESTOU VESTIDA COM UM VESTIDO DE SEDA, QUE MOLDA CADA CENTÍMETRO DO MEU CORPO. USO UM COLAR DELICADO, BEM FINO E UM BRINCO BEM PEQUENO. USO UMA LINGERIE VERMELHA, PEQUENA, QUE COBRE MEUS MAMILOS, E MEU PEQUENO MONTE DE PELOS.
USO UMA SCARPIN VERMELHA QUE ELE TROUXE ESPECIALMENTE PARA ESSE MOMENTO.
SUA LÍNGUA, ME ALCANÇA ONDE NINGUÉM, EM MOMENTO ALGUM ME ALCANÇOU. ELE ME DÁ PRAZERES INFINITOS, ME VASCULHA POR DENTRO, COM SUAS MÃOS, SEU MEMBRO, SUGA MINHA LÍNGUA, LAMBE MEU CORPO COMO UM GATO, GEME PERTO DO MEU OUVIDO, E PERGUNTA SE SOU SUA, E SOBRE ISSO, NÃO HÁ DÚVIDAS. SOU SUA, INTEIRAMENTE SUA. CORPO, ALMA, PENSAMENTOS, DESEJOS E SAUDADES ACUMULADAS.
E ASSIM PROSSEGUIMOS, NESSE BALLET DOS DESEJOS MAIS PROFUNDOS, NESSA FOME QUE NÃO CESSA, NESSA SEDE QUE ARRANHA A GARGANTA.
E ASSIM MISTURAMOS NOSSAS CARNES, NOSSOS BRAÇOS, NOSSAS LÍNGUAS, MINHA VAGINA E O MEMBRO DELE, NUMA DANÇA DE SEXO, AMOR E PAIXÃO.
E EU SENTO SOBRE ELE, E ELE ME SEGURA PELOS TORNOZELOS E EU GOSTO, E O ABSORVO INTEIRO, E ME PREENCHO COMPLETAMENTE, E CAVALGO, COMO SE ESTIVE EM UM CAMPO, LIVRE, E ELE ENLOUQUECE, E EU ENLOUQUEÇO, E ELE ME OLHA E EU O OLHO, E ASSIM NOS VEMOS GOZAR, COM NOSSO OLHOS FIXOS UM NO OUTRO, E NOSSAS BOCAS, DE LONGE SE BUSCAM, E GEMEMOS JUNTOS E ARFAMOS JUNTOS, E NOS CHAMAMOS E NOS DECLARAMOS E FINALMENTE GOZAMOS JUNTOS, NUM GOZO QUE PARECE NÃO TER FIM, E NOS ABRAÇAMOS, E DEIXAMOS QUE NOSSA ENERGIA VOLTE AO NORMAL, SUADOS CANSADOS E FELIZES, PELO REENCONTRO.
E EU COM MEU INSEPARÁVEL SCARPIN VERMELHO, APROVEITO O MOMENTO PRA FAZER CARINHOS TERNOS, CAFUNÉS E BEIJINHOS DELICADOS, NO AMOR QUE MAIS AMO.
VALENTINA FRAGA |
