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Contos-->TEL. 22-4434 -- 13/04/2000 - 21:49 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Achou muito estranho o fato de seu nome não constar da lista telefônica nova.
A primeira providência foi chamar a secretária pelo interfone.
Fazia assim com relação a tudo o que o contrariava. Comentava com a Helena, uma loira fininha, mas com um enorme coração maternal, capaz de ouvir por horas a fio as lamentações do chefe a respeito da nova regulmentação do IPTU, das incompreensões da mulher na menopausa, das exigências da amante...
"Helena, como é possível uma coisa dessas? Logo o meu nome fora da lista? Um absurdo!"
Era como se tivesse ficado fora da lista dos aumentos semestrais da companhia multinacional em que trabalhava, ou não ter sido convidado para o jantar da Diretoria.
Doía mais o desrespeito da Telefônica do que o fato em si. Afinal, quase ninguém telefonava mesmo para sua casa, geralmente mal atendidos pela mulher irritada, que depois sempre reclamava com ele:
"Essa droga só me deixa nervosa! Qualquer dia mando desligar!"
Ficou encafifado a manhã toda com a estória do telefone não estar na lista. Conferiu com os colegas gerentes no restaurante:
"Vocês já receberam a nova lista telefônica? Viram que lindo o desenho do tucano, na capa? Saiu o seu número, Augusto? Claro...claro...é lógico que sim... a Telefônica não erra. Que coisa não é, tanta gente e não se esquecem de ninguém!"
Sorria amarelo diante do espanto dos companheiros de mesa pela pergunta inusitada.
Já era quase o fim do expediente quando teve a idéia de ligar para casa. Será que não haviam trocado o número. Um engano, afinal, seria melhor que um esquecimento. Dói menos no ego.
Discou ansioso: 22...44...34....
Estranhíssimo! Nada! Nenhum som em resposta. Nem o assobio longo de chamada, nem o intemitente de ocupado ou nem mesmo o irritante aviso de defeito ou de telefone desligado. Simplesmente nada, nada mesmo.
Chamou Helena pelo interfone, para cobrar providências que, esperava, já deveriam ter sido tomadas a respeito.
Necas! A secretária já tinha ido bater o ponto, que já eram mais de dezoito e trinta.
Resolveu ligar para a própria Telefônica. Na certa teriam alguma explicação.
"Pois não, cavalheiro...Antonio Carlos de Oliveira...Um momentinho....Não meu senhor, o seu nome não consta da nossa lista. O senhor não deve ser assinante, não é? Quer se inscrever, temos ótimos planos...Ligue para..."
Essa agora! Acabou dizendo poucas e boas para a atendente da Telefônica.
Como ele não era assinante? Fora ele um dos primeiros dos bairros a se candidatar na primeira chamada da Telefônica para aqueles que desejavam adquirir um telefone automático em Santa Rita de Piratininga! Ele que era amigo do diretor financeiro da Telefônica, o doutor Eurico! Pôrra! Vou telefonar para o Eurico e reclamar. Alguém vai perder o emprego nessa merda, ainda mais agora que foi privatizada. Eles vão ver só! - pensava.
No caminho de casa, em direção à Avenida Nove de Julho, foi meditando na reação que a esposa teria a rspeito. Ela não ligava a mínima para o telefone mas iria ficar fula e fazer um barulho daqueles por causa daquilo. O que diriam os colegas e amigos do Rotary e do Lions? O nome do marido fora da lista telefônica!!! Iria certamente creditar o fato a alguma trapalhada dele. Que droga!
Estava tão acostumado com a curva apertada, para guardar o carro na garagem, que fez a manobra sem olhar para a casa.
Que dê a casa?!?
Meu Deus, sua casa, inteirinha, havia desaparecido. Subira com as duas rodas do Ômega n calçada e diante dele apenas um terreno baldio, totalmente vazio.
Desceu apavorado. Talvez tivesse ficado maluco.
Conferiu o número das casas vizinhas. A do seu Américo, do Restaurante. A do Ricardo, da Metalúrgica Aviaer. Também os vizinhos de frente eram os mesmos. Morava ali há dez anos. Não poderia haver engano.
Não quis falar com ninguém. Poderiam pensar que enlouquecera e iriam trancafiá-lo em um hospício.
Correu para a padaria da esquina e tocou de novo o telefone para casa. Nada! Nenhum som!
Quando saiu de volta à calçada, apavorado, parvo, sem saber o que fazer, lembrou por um instante do que dissera para Wanda, sua esposa, que lhe estragara o café da manhã, esguelando com ele porque deixara o cachimbo sujo de novo em cima do móvel da televisão:
"Por que você não some de minha vida de uma vez por todas?"
O que não reparara é que, numa minúscula nave espacial, aterrissada em cima do beiral da janela, dois homenzinhos verdes haviam observado a cena e, piscando os olhos desmesuradamente arregalados, haviam cotucado um significativamente o outro.
Haviam simplesmente atendido o seu desejo.


Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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