A ideia de transformar a matéria prima em obra de arte, incomodava todos os dias, todas as noites.
As fantasias e o desejo, misturados com a matéria, estática, inerte, pronta pra ser lapidada, se misturavam.
Era preciso mostrar na escultura, todos os sentimentos, todas as emoções contidas no coração. Tudo que incomodava e não podia ser exposto de forma clara.
Seria negra, cor de bruma intensa, que tudo esconde.
Pensava no formato, oval, arredondado, quadrado, retangular... é, retangular, foi o escolhido, afinal, poderia apresentar a diferença da estatura, e a largura que eram diferentes.
Suas arestas tratariam de expor as dificuldades do dia a dia, onde nada acontecia de maneira fluida.
Precisariam ser duas, e ao mesmo tempo uma. Entrelaçadas, unidas, entretanto duas, separadas, mas fortes como os elos de uma corrente.
Precisariam ter seu centro transparente, onde quem visse de longe, logo entenderia que ali estavam duas formas separadas, mas unidas por laços inexplicáveis. Eram feitas da mesma matéria e do mesmo sentimento.
Precisariam ser entrelaçadas, e a forma escolhida foi uma fenda, que se abria discretamente pra que a outra lhe preenchesse.
Precisariam ser dois elos, de forma retangular, com suas arestas, negros como a bruma intensa, transparentes em suas intenções, colados, unidos, de formas diferentes pra que se pudesse identificar cada um, em sua altura e largura, separados entretanto entrelaçados, unidos, sólidos em suas intenções.
Assim era a escultura, que pra alguns seria apenas dois retângulos, um por dentro do outro, entretanto, pra outros, cheios, de sentimentos, seriam dois amantes, entrelaçados, envolvidos,
amantes incondicionais, além das miudezas do mundo, além de compromissos, contratos, leis, ordens, crenças, além de si mesmos.
Duas pedras esculpidas, na intenção de significar o melhor dos sentimentos, a representação do amor.
Valentina Fraga
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