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Cronicas-->DANAÇÃO -- 20/11/2016 - 12:04 (ALEXANDRE MOTTA JUSTO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu não acredito em deus.

Mas se ele existir estou certo de que ele é essencialmente mau. Ninguém sequer cogita dizer isso. Ninguém tem coragem de dizer isso. Aliás, ninguém tem a ousadia de sequer pensar isso.

Então a conclusão é que o càncer da menininha de dois anos é obra de deus e a explicação é bastante óbvia: deus é mau e faz a criança sofrer.

Nada de dizer que misteriosos são os desígnios de Deus. Não há mistério: ele é mau e nos faz sofrer. É o trabalho dele. Ele já faz isso há muito tempo e não devemos menosprezar o seu trabalho dizendo que deus é bom. Se bem que se dissermos que deus é bom, quando na verdade ele é mau, nós estamos sendo maus e isso significa que realmente fomos criados à imagem e semelhança dele. Nesse caso, sendo ele mau poderia muito bem nos castigar por duvidarmos dele ou poderia ficar orgulhoso de nós por sermos maus como ele. Bem, misteriosos são os desígnios de Deus.

E ele cumpre muito bem o seu trabalho, devemos admitir.

Ele inventa doenças terríveis que atingem o pior (ou melhor, conforme o ponto de vista) dos homens e também a inocente criança de dois anos que sequer tem idéia do bem e do mau. Desconfio que em sua imensa maldade ele confunda pesquisadores e os induza a erros que atrasam em décadas a descoberta da cura. A Peste Negra e a Gripe Espanhola não foram obras de um anjo que caiu em desgraça. Elas foram obras dele, ora! Do ponto de vista da maldade foi genial: doenças absurdamente letais em momentos da história em que a ciência seria incapaz, mesmo sem a sua interferência, de conseguir resultados rápidos que evitassem as milhões de mortes. Claro, claro, alguns dirão que ocorreram mutações genéticas nos vírus e bactérias, que as condições de higiene eram péssimas e muitas outras coisas. Não importam o que digam, pois a verdade é que é justamente assim que ele trabalha! As nuvens não se abrem e uma voz poderosa diz aos homens que eles morrerão aos milhões por obra da bactéria Yersinia Pestis ou pelo vírus Influenza . Isso seria desmerecer a sua inteligência! Em primeiro lugar ele faz com que todos acreditem que ele é bom e que as coisas ruins que acontecem aos homens devem ser atribuídas à um anjo mau. Depois, no calar da noite, ele cria bactérias e vírus ou simplesmente faz com que ocorra uma pequena mutação genética que os torne letais. Definitivamente deus não é um daqueles assassinos integrantes da máfia que antes de matarem suas vítimas dizem que "Don Barttollone manda lembranças". Deus não é um chefão da máfia que sente orgulho de que todos saibam que ele é mau e poderoso. Deus é infinitamente mais inteligente. Os vírus não dizem aos infectados que deus manda lembranças. Seus instrumentos são mais refinados e não podem ser rastreados. Deus coloca todas as suas maldades na conta do diabo. É simplesmente genial!

E o que dizer das guerras que matam tantos inocentes? As guerras não começam de uma hora para outra. Algumas começam com coisas pequenas, quase insignificantes como um desentendimento entre um nobres francês e um nobre inglês completamente bêbados. Outras tem seu ponto de partida no aumento da população, no consequente aumento na demanda de comida, matérias-primas e tudo mais que um grupo precisa e que o vizinho possui. Então um dia um nobre bêbado xinga a mãe de um outro nobre bêbado. Mas é claro que a guerra não começa aí. Seria simples demais. Para deus isso é um jogo. Ele não usa truques para passar de fase. Ele usa e abusa do conhecimento da natureza humana e vai construindo uma teia complexa de interesses, vaidades, ambições, necessidades, traições que culminam nas guerras. E assim, mais uma vez, ninguém desconfia que foi ele que armou tudo. Toda responsabilidade é atribuída à natureza do homem e o homem, é claro, coloca tudo na conta do diabo. E assim milhões morreram e continuam a morrer.

E deus criou a natureza. Sem o homem a natureza era boa. É verdade que um bicho aqui devorava outro bicho ali, mas isso não era nada. Um desses animais já extintos quando queria disputar a liderança com outro membro do grupo não usava uma bomba de hidrogênio: eles lutavam e resolviam a questão só entre os dois. Para a maldade uma natureza assim é extremamente chata e entediante. Então em sua magnífica maldade deus criou o predador dos predadores. Inventou uma história meio esquisita de um homem e de uma mulher que viviam no paraíso e de lá foram expulsos porque comeram uma maçã. E as pessoas acreditaram nessa história e ainda culparam o pobre casal por toda a desgraça humana. Ah sim, também colocaram essa na conta do diabo. Agora vejam bem: expulsar do paraíso alguém só porque comeu uma maçã? Isso é a mais pura maldade! Adão e Eva não mataram um panda para o jantar. Só comeram uma maçã!

Em todo caso, ao criar o homo sapiens deus permitiu que nascessem os homens que criaram a bomba atómica. E os que deram a ordem de que fossem lançadas. E os que a lançaram.

Ele também permitiu que Hitler nascesse. Se ele realmente fosse bom e onisciente deveria saber que Hitler faria o que fez. Por qual razão ele colocaria a vida de milhões de pessoas nas mãos de um único homem apostando em seu livre arbítrio? Se acreditava que Hitler tinha o livre arbítrio e poderia escolher entre matar ou não matar milhões de pessoas ele jogou com suas vidas.

Ele teria decidido arriscar? Não, não arriscou. Deus é mau. Mau e onisciente. Mandou Hitler para cá sabendo exatamente o que ele iria fazer. Não se iludam. Hitler foi escolhido a dedo. Deus sabia o que ele faria. Deus sabia que ele não tinha escolha. O Fuher sabia o que tinha que fazer. Ele não arriscou nada. Ele não jogou dados com milhões de vidas. Ele mandou o cara para fazer o que ele queria que fosse feito. E do ponto de vista da maldade o trabalho foi muito bem feito. Inocentes sofreram e morreram. Milhões. Homens, mulheres, velhos e crianças.

Antes que me condenem: não acho que foi certo o que Hitler fez. Foi monstruoso. Não sou nazista. Não sou anti-semita. Mas se você recebe de Deus a missão de fazer maldades, as piores maldades e faz o que Hitler fez, então você cumpriu sua missão. E o falecido Adolph deve ter sido recebido com tapinhas nas costas quando se suicidou (ou quando morreu na Argentina, sabe-se lá).

Diante disso uma triste constatação: eu sou um pecador. Não faria o que Hitler fez. Abomino o que ele fez. Me recusaria terminantemente a exterminar milhões de seres humanos. Se deus me mandasse para cá para fazer isso eu daria uma bela de uma banana para ele e ele certamente faria alguma maldade para mim.

Então me pergunto: se Deus é mau e eu descumpro as suas regras para onde eu vou depois que eu morrer? Para o Céu ou para o Inferno? Nós aprendemos que o Céu é o lugar das pessoas boas e o Inferno o lugar das pessoas más. Aí eu pergunto: se deus é mau onde será que ele está?

E nesse contexto como será o Céu e como será o Inferno? Se Deus é mau e Hitler cumpriu a sua missão então ele está no Céu. Ou será que ambos estão no inferno? Desconfio que deus é tão mau que prometeu o Céu a Hitler e quando ele bateu na porta foi mandado para o Inferno. Só de maldade.

Agora eu estou um pouco confuso: suponhamos que eu possa ser considerado um homem bom. Para onde eu vou quando morrer? Para o Céu ou para o Inferno?

Então vamos imaginar que deus, apesar de mau, vive no Céu e deixou Hitler entrar. Não é terrível a idéia de conviver com Hitler por toda a eternidade, ouvindo-o se gabar do que fez e de como foi bem recebido por Deus?

Mas pensando bem, se você é um pecador como eu fique tranquilo: você vai para o Inferno conviver com outros pecadores que nunca fizeram mal a ninguém.

Mas se Deus é onisciente ele não saberia que nós seríamos bons? Então porque ele nos deixou nascer?

Porque Madre Teresa nasceu? Ele não sabia que ela seria uma pecadora que dedicaria sua vida a ajudar as pessoas ao invés de mata-las?

Bem, misteriosos são os desígnios de Deus...

Ah, claro, não poderia me esquecer daquele que veio à terra dizendo ser o filho de deus. Morreu crucificado e deixou como legado uma das instituições mais corruptas, imorais e maléfica do mundo, que queimou vivas milhares de pessoas que não aceitavam os seus dogmas, que encobriu casos de abusos sexuais de crianças por seus membros e que apoiou o nazismo.

E os padres que são acusados de pedofilia? Esses são os verdadeiros representantes de Deus na terra? Se Deus é mau a resposta é sim.

E quando morrerem Deus vai dar um jeitinho de se tornarem santos. E os padres que supomos verdadeiramente vocacionados?

Bem, esses são os verdadeiros pecadores, os filhos renegados de Deus e nós, em nossa ignorància, os admiramos e os ouvimos.

Mal sabemos que ao recorrermos aos padres que nunca abusaram sexualmente de uma criança estamos selando nosso destino.

Na verdade estamos colocando nossos nomes na lista de entrada do Inferno. Da perdição eterna.

Óbvio, portanto, o motivo pelo qual é tão difícil para o homo sapiens ser bom: a bondade não faz parte de nossa natureza. Somos criados à imagem e semelhança de deus e, portanto, nossa natureza é essencialmente má. A idéia da bondade, da caridade, da virtude é obra do demónio. Quando somos bons estamos, na realidade, pecando sob a influência benéfica do anjo caído e agindo contra a vontade de deus. Somos predadores invejosos, egoístas, cruéis, vingativos, avarentos, vaidosos, indiferentes ao sofrimento alheio. Desejamos a mulher do próximo, jamais damos a outra face, passamos por cima de qualquer um que esteja em nosso caminho e ignoramos completamente os miseráveis famintos pelos quais passamos em cada esquina. Se ser bom fosse parte da nossa natureza seria fácil ajudar ao próximo, alimentar o faminto, cuidar do enfermo, perdoar os que nos fizessem algum mal. Mas não, absolutamente não, nossa dificuldade em fazer tudo isso é consequência de nossa natureza má. Se aceitássemos a maldade como parte de nossa natureza seríamos certamente mais felizes.

Entretanto, como desde o início dos tempos fomos enganados para acreditarmos que somos bons e que devemos fazer o bem estamos condenados à danação eterna.


E seremos obrigados a conviver com Ghandi e Madre Teresa.

Por toda a eternidade.

Amém.
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