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cronicas-->Mudanças -- 14/06/2001 - 00:57 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há dias na vida em que a gente muda tudo, ou alguma coisa, ou umas e outras coisas. Muda-se quando se passa de feto a bebezinho (guti-guti), quando se entra na escola, quando se passa do primário para o ginásio, o científico, faculdade - sim, eu sou desse tempo, quando as garotas faziam o curso normal, ou clássico. Científico só as mais machonas, ou as mais saidinhas - minhas preferidas na época. Namorava uma delas, que virou geóloga e, anos mais tarde, sucumbiu num atentado do Sendero Luminoso lá em Cuzco, quando estava fazendo um trabalho em Matchu Pitchu. Era a Rosinha. Eu já era casado, mas aquilo mudou alguma coisa do meu passado.
Depois você casa, e muda duas coisas de uma só cajadada - de casa e de estado civil. Alguns mudam até de estado geográfico. Mudou a comida, que era da mama, e passou a ser da noiva. No começo passei maus bocados, mas logo ela engrenou. Terceirizar o cardápio para uma cozinheira teria levado a um divórcio litigioso precoce no ato, porque comida tem que ter amor e energia da família, e empregada não é exatamente alguém que nos ama, salvo honrosas exceções. Hoje faço eu mesmo, e me arrependo de não ter aprendido junto com ela naquela ocasião. Mas essa foi outra mudança.
O tempo passa e vem a separação que, além da mudança de estado civil novamente, traz outra mudança de casa, de cabeça, de cama e, principalmente, de década - eu estava entrando nos quarenta - e de paladar. Foi aqui que a coisa pegou pra valer. A cabeça a mil por hora, e o estómago sofrendo mais que morador de rua.
Senti mais realização quando aprendi a me virar sozinho na cozinha do que quando recebi o diploma da faculdade. Agora só aceito cozinha a quatro mãos. Existe local mais erótico que uma cozinha bem aparelhada? Uma mesa king-size, cafeteira sempre "en guard", sanduicheira estrategicamente colocada, a geladeira repleta de creminhos gelados, geléias, sorvetes, cervejinha, frutas afrodisíacas, salgadinhos, e outros quitutes, que enchem a nossa imaginação de idéias dignas do Nelson Rodrigues. E claro, um fogão de seis bocas, no mínimo. Já imaginaram uma cozinheira embolando o meio de campo, quebrando o clima do momento? Se você tem cozinheira, mande embora hoje mesmo, e sua vida sexual vai dar um giro de 180 graus. Mude. Se seu marido não sabe cozinhar, mude de marido também, e curta os prazeres da mesa, literalmente. Isso também vale para os rapazes. Na pior das hipóteses, separe-se, acerte a pensão dos bacuris, e case-se com a cozinheira mesmo!
Muito bem, resolvido o problema do paladar, o mais urgente a resolver, pelas circunstàncias da hora, vamos à cabeça. Neste quesito muda tudo, por bem ou por mal. Segundo estudos realizados por uma penca de colegas assemelhados, leva uns 5 a 6 anos para sua cabeça entrar em sincronia de novo. Isso para os homens. Não tenho dados sobre as estatísticas femininas. Entrar em relacionamentos sérios durante esse período acaba sendo uma furada. Você ainda está demasiadamente grudado na ex, ainda não aprendeu a cozinhar decentemente, os filhos nos transformam em parques de diversões nos fins de semana, e a própria ex ainda não engatou um amor das Arábias, salvo exceções, sempre salvando as exceções, pois as há. Mas em geral é assim que ocorre. O desfecho ideal é o ex-casal encontrar, cada um a seu tempo, um amor ao estilo Branca de Neve e os sete anões - devidamente demitidos pelo príncipe depois que a donzela, ou o mancebo, capitular. Pague o FGTS e a indenização dos baixinhos, e não tenha medo de ser feliz.
Esse período é o mais propício para encontrar a felicidade de uma vez por todas. Primeiro, porque você está cheio de amor pra dar, já fez quase todas as besteiras cometidas pelos iniciantes de primeiro casamento, os filhos já estão mais independentes, você tem uma noção melhor dos próprios defeitos, já deixou a maior parte das frescuras de lado - broxa sem o menor constrangimento, se for preciso, ou tem repentes de adolescente recém-desvirginado - e já aprendeu que a mulher nasceu para ser mimada, paparicada, endeusada, ganhar flores e surpresas. Aprendeu que não há nada mais precioso que o olhar meigo de uma mulher, do que os carinhos que ela faz sem deixar que você perceba, dos cuidados que ela tem quando lida com nossos traumas e frescuras. Vai perceber que nada nos deixa mais felizes do que vê-la sorrindo e voando ao nosso lado, livre. Porque uma relação é uma união de duas liberdades (ouvi um padre dizer isso e achei supimpa). Vai notar detalhes tão pequenos de vocês dois, como aquele assunto que você gosta de ler e, de repente, ela traz um relatório completo e atualizado. É nesta fase que você aprende a perceber quando alguém se preocupa com você; e quando também aprende a se preocupar, a prestar atenção no que realmente vale a pena - ela. É uma excelente ocasião para mandar seu chefe ir catar coquinhos, ou coisa pior, e pra chutar o pau da barraca, e sair atrás da sua felicidade.
Não vacile, mude. Forje o novo paradigma da sua vida. Nem que para isso você sinta calafrios, azias, síndromes do pànico e enjóos. Tenha paciência e aguarde as boas novas. Afinal, quando você muda uma planta de lugar, principalmente se estiver muito enraizada, ela sofre um pouco no começo, até as raízes se acostumarem com o novo solo. Regue sua planta com seu melhor carinho. Vai ver que os frutos serão bem mais suculentos.
- Palavras do Senhor. (Desculpe, agora eu me dei um gancho legal).
O Senhor esteja convosco, e contigo também. Rezemos ao Senhor. Ele está no meio de nós. (Fim do gancho).
Lembrei dos tempos de coroinha. Mas essa ladainha a gente dizia em latim. Hoje tudo mudou, e eu quero é botar meu bloco na rua...
Você também? Boa sorte!








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