A Mulher Nua
A tela branca aguardava a escolha. Ali havia linho com uma base branca, sobre um cavalete, tintas em volta, sortimento de pincéis e um pretenso artista.
O lugar era pequeno. Algumas cadeiras, um armário, uma pequena mesa, um canto bem particular, só delE e de suas fantasias.
Foleando algumas revistas, algumas paisagens, e nada lhe encantava. Resolveu olhar pela pequena janela que era responsável por arejar o ambiente e tirar dali o excesso do cheiro das tintas e químicas que usava. Apesar dos materiais atuais serem dotados de todo cuidado, o chumbo existente nas tintas sempre era um risco a qualquer artista.
A casa era bastante alta e logo a sua frente existia um sobrado mais baixo e observou uma mulher saindo para varanda, quase despida, buscando um pouco de sol.
A mulher espalhou um tecido numa espreguiçadeira, que mais parecia uma cama. A varanda grande dava mais impressão de um quarto, mesmo sendo varanda.
Com certo receio de ser vista, ela abaixou-se logo e espichou-se preguiçosamente sobre a espreguiçadeira. O tecido que servia como lençol era azul turquesa, contrastando com sua pele branca. Seus cabelos médios e pretos eram destaque na composição.
Ali estava, sem dúvida, tudo que precisava para iniciar o trabalho. Não dependeria de figuras de revista, ou mesmo de sua memória que pudesse tirar a veracidade da cena.
Ali estava a modelo ideal, o quadro ideal, a composição ideal que qualquer artista pagaria para ter, com um detalhe especial, ela não sabia que estava sendo retratada.
Era torcer para que cada movimento que fizesse, fosse mínimo. Teria que ser rápida.
Num movimento rápido, toda a cena foi rascunhada na tela. Ele já dominava a técnica do esboço. No mais, seria dar cor, seria retratar os detalhes do rosto, a expressão de prazer que ela sentia com o sol batendo em sua pele.
Pouco a pouco, a cena o enchia de prazer. Cada vez interessava-se mais em olhar aquela mulher, muito mais do que retrata-la na tela.
Olhava detidamente suas pernas, seus braços, seus cabelos espalhados no lençol azul turquesa, suas partes cobertas davam asas a imaginação do artista.
Imaginava como seria cada curva daquela parte coberta, seu monte de pelos, seus seios parte cobertos pelo tecido.
Ah, como seria bom, se pudesse voar sobre aqueles telhados para lhe dar bom dia, para surpreendê-la.
Ele estava perdido, de desejos, de vontades, desde que pôs os olhos naquela mulher.
O quadro já não era importante... As tintas já se misturavam descoordenadas, os traços já perdiam o sentido. Tudo se formava em sua mente. Era tudo um desejo insano, uma vontade sem limites, de saber quem era, de toca-la.
Ali começava um caso de amor, uma grande paixão, que continua em outro momento qualquer....
Valentina
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