DEPOIS DO GOZO
Depois do gozo, a imagem era a seguinte: Dois corpos sobre a cama, partido em dois, como uma árvore partida ao meio no campo, depois de um raio atirgir-lhe a copa.
Seus troncos depositados no solo revestido de folhas, bem parecido com o lençol sobre a cama, cheios de imperfeições causadas pelo movimento.
Suas pernas como quatro fortes raizes espalhadas cada uma para um canto.
Seus braços como galhos desalinhados e seus dedos como folhas, procuram lentamente novos movimentos.
Por entre as raízes, escorre a seiva produzida a pouco, resultado do gozo perfeito.
Suas cabeças, ainda voam alto, com as deliciosas sensações sentidas. Antes eram dois, duas sementes distintas. Noutro momento eram como sementes coladas, geminadas, em busca de uma só essência, de uma flor apenas, de um fruto apenas, de polpa macia, como macio são os seios da mulher, como macia são suas nádegas, como macia é a entrada em sua gruta escura, suave e profunda, pronta pra receber a semeadura, pronta para geminar.
Um encontro perfeito, os corpos em busca da unidade.
Ali estava formado o quadro, emoldurado e preso no teto de um quarto de motel. Imagem inesquecível, guardada na memória, guardada no coração pra não ser esquecida.
Ele chamava atenção: - Veja que linda imagem dos nossos corpos refletidos no espelho.
Pintor nenhum retrataria uma imagem tão perfeita.
Assim foi de fato, assim será para sempre na memória de quem ama.
Valentina Fraga |
