Usina de Letras
Usina de Letras
149 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Lembranças de nossos pais -- 02/08/2001 - 22:27 (iara maciel muniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEMBRANÇAS DE NOSSOS PAIS -



Agesípolis Fernandes Maciel Auristelina da Costa Maciel









Das coisas boas e belas que acabaram nos vêm sempre uma luz e a capacidade de ver tudo com algum encantamento, apesar da tristeza ; e assim com tanta coisa mudando, também nos transformamos.

Tudo penetra mais fundo em nossa alma porque nossos sonhos foram rasgados e fenecem levados pelas horas, pelos dias...

Hoje, na casa vazia de meus pais, os cômodos estão cheios de presenças...as vozes ainda ecoam no corredor e à luz do entardecer ouve-se o barulho da água que cai dos vasos molhados e passos soam lentos como se a pressa já fosse em vão. E, nos meus olhos nublados pelas lágrimas desfila uma vida inteira... e vejo minha mãe, ainda tão moça, semblante sereno, embelezada pela ternura, uma constante em sua vida. Alguém já disse que as mulheres tecem e forjam suas vidas no escuro da noite, no silêncio do trabalho, cuidando do marido e dos filhos...e assim foi minha mãe...uma violeta escondida, espargindo o perfume entre os seus... e, um esteio que resistiu às tragédias que marcaram sua vida. Calada, quieta; mas, a palavra certa, o ombro amigo, a proteção, o cuidado, o amparo. Normalista, numa época em que poucas mulheres sabiam ler; musicista com seu violino, muitos anos à frente de seu tempo.

Mais que seu trabalho, marcou nossa vida sua profunda fé, inabalável até a última hora. Esposa e companheira de meu pai, seu braço direito, âncora , refúgio e alento nas horas difíceis.

Minha mãe era a certeza, a verdade, a presença constante; não haveria lar sem ela; para nós, seus filhos, a mágica visão do mundo, um mundo de luz, poesia, serenidade, respeito, amor.

Entretanto, amar sem querer perder é impossível; a aceitação impõe sofrimento, mas sabemos que a paz virá, como uma canção tecida pelas boas lembranças...

Algumas dessas lembranças parecem- me fixadas no chão movediço do tempo. Ah! o tempo e suas lembranças...o passado ressurge ,tão nosso; as imagens aparecem como numa fotografia .Poderei confiar nelas, tão firmes e tão fugazes? Apesar disso, desfilam uma a uma: meu pai chegando do banco Triângulo, guarda-chuva na mão, num terno bem vestido e a cidade tão pequena, calma, acolhedora -- Ituiutaba, um lugar em que todos se conheciam, assentavam-se à porta das casas, conversando, enquanto as crianças brincavam.

O tecido assim criado pela imaginação está cheio de presenças, sonhos, realidades e fantasias, quem saberá?

Eis o fazendeiro, rápido na aprendizagem nova, dinâmico, trabalhador...e a família aumentando...a vinda da irmã e dos sobrinhos...a esperança, a fé, o trabalho. A cidade crescendo, ruas calçadas, e o meu pai no Sindicato Rural... na Associação Comercial... na Associação Ituiutabana... no Clube de Truque Tijucano... sempre presente, participando, contribuindo.E a política... vereador, presidente da Câmara; na sua voz as palavras sensatas, calorosas, os discursos veementes em defesa dos cidadãos; um tempo em que ser vereador era opção de servir; outros tempos, outros homens.

E nascia o primeiro Colégio Estadual e o homem para quem a leitura e o estudo eram a certeza de um futuro digno e garantido partia à frente - primeiro Diretor. Quanta alegria, quantas viagens a BH, quanto esforço e dedicação...

As imagens cruzam-se e algumas brilham com a luz carregada da saudade; as colunas nos jornais, sempre escritas na calada da noite,

no espaço que lhe sobrava entre os afazeres, sempre tantos.

Ituiutaba e a primeira Exposição Agro Pecuária, o gado, as festas, os shows...ali, no campo de futebol, só possível pelo arrojo e tenacidade dele e de outros companheiros.

A cidade progredia e como ela meu pai. Agora, as figuras se entrelaçam entre tantos objetivos: o pecuarista, o professor, o pescador do Paranaíba, o contabilista e seu Imposto de Renda, o escritor, o jogador de truque, o ouvido amigo, a mão que acolhia e auxiliava.

Um homem ‘feito para estudar e aprender, ensinar e escrever”, é esta reflexão que me atinge, de repente, enquanto escrevo e as lembranças correm rápidas. Inúmeras apresentam-me o homem calado, com o jornal ou o livro, embevecido com o texto, alheio a nós; ou com a caneta a cobrir páginas e páginas com sua letra firme e enérgica; às vezes, ainda ouço o conhecido som da sua máquina de escrever...tantos artigos, reflexões, histórias, em que o real se perdia nos meandros da sua memória.



E penso, então, na sabedoria e na bondade quando vejo, num halo de luz o homem que tendo muito vivido, ensinado e trabalhado , agora, em sua cadeira, calado, quieto ; entretanto, em seus olhos brilha uma vida inteira.

Olhos que muito viram no convívio com a tristeza e a alegria; e é a alegria que brinca em seu sorriso,em uma ou outra palavra que escapa da dor e da letargia. Ah! A alegria das coisas simples e profundas...essa alegria inesperada que entra pelo meu peito rasgado em lágrimas e dor e eu me reconheço nele, como reconheço a dádiva de ser sua filha e poder revê-lo no sorriso maroto de um neto, no olhar sério de um bisneto , num gesto repentino de um filho...







Pela família MACIEL,



Iara Maciel Muniz

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui