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cronicas-->As aparências enganam -- 15/06/2001 - 22:27 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já era de madrugada. Meu melhor amigo - não podia acreditar. As garotas já tinham ido embora e o cara insistia, na frente dela. - Deve ser ressaca precoce! - pensei. Mas já era a quarta, ou quinta vez. A regra vai acabar confirmando a exceção.
A coisa começou lá pelas onze - despedida de solteiro do Valdirzinho - amigo de infància de nós todos. O Valdir era um sujeito franzino. A mãe dele me disse que, quando ele nasceu, parecia um girino. Mas girino albino - cabelos de cobre e olhos de coelho. E o cara já nasceu com catapora, todo pintado. Mas passou em todos os testes. O Valdir comparecia. Nenhuma mina passou incólume por aquela estrutura óssea cartilaginosa. Era conhecido nos arrabaldes como "o fraco que satisfaz". Ele era "slims" mesmo.
Os anos voaram. Cada um foi se arrumando como podia. O Bruno casou com a Cecília, uma neta de italianos, que nunca acabava em pizza. O Robertinho se ajeitou com a Lurdinha, lá de Orlàndia - o namoro dele era uma verdadeira viagem. Geraram uma menina linda - puxou os pais. O Paris sumiu na vida - deve estar no senado, como lobista, ou morreu. Ele sempre segurava as nossas pontas na hora do aperto. O Armando trocou alianças com a Betinha, uma das gatinhas da turma. Virou funcionário público, e agora dá consultoria. O Chapecó foi embora para a Grécia com o pai dele, que comprou os tubos a crédito e embarcou de volta ao berço de Zorba, o centro-avante, isto é, o grego. Deu um calote inesquecível. Também, faliram com ele aqui. O Maionese virou vendedor de lustres - ele imitava o Topo Giggio direitinho, e filava cigarros até a Ponta da Praia, quando a gente ia passar as férias em São Vicente, no apartamento do pai dele. Se casou, ninguém sabe, ninguém viu. O Binho, que puxava todas, deve ser amante de alguma socialite. Evaporou feito fumaça.
Mas o Valdirzinho, esse resistiu a tudo na sua fraqueza. Jamais se casou, ficou pulando de galho em galho, e vivia se gabando da imunidade.
Isso antes de conhecer a Natasha. A Natasha, na verdade Anastácia, é uma mulata de fechar o comércio e derrubar Wall Street. Ela é cozinheira no bar do Zé, e faz um molho de pimenta vermelha que agita a mais tímida das hemorróidas. Daí o apelido soviético, ela fala às massas.
Na primeira vez que a gente bateu uma feijoada lá no Zé, o Valdirzinho quis experimentar a pimenta da Natasha e acabou numa respiração boca a boca - com ela, claro.
Foi paixão fulminante. Quando ele voltou do bate-boca na cozinha, parecia que tinha passado batom. Vermelho até os molares. A Natasha é mais ardente que caldo de mocotó no micro-ondas.
Daí ao noivado foi um passo. Ele deu uma aliança e um canino de ouro a ela. Ela brilhava onde quer que fosse - no dedo e no sorriso. Devia dar um trabalho danado no sofá da sala.
Fizemos até uma flàmula pro Valdirzinho, com o brasão da foice e do martelo, e escrito em baixo "o que é do homem ninguém come", frase que a gente ouviu de um caiçara, num acampamento em Ilha Bela, lá pelos idos de mil novecentos e sessenta e alguma coisa.
A Natasha é daquelas mulheres que, quando engravidam, dão trigêmeos, no mínimo. Fértil e fogosa feito o Vesúvio, quando está naqueles dias. E vive se agarrando no Valdirzinho feito durex. O danado deve estar comparecendo como nunca - um orgulho da raça. Até engordou, parece a bochecha do Setúbal.
Reunimos a turma e fizemos um brinde: - Ao Valdirzinho, que passou desta para uma melhor! E erguemos os copos como três mosqueteiros.
Mas, qual não foi nossa surpresa, ao notar que o Valdirzinho ergueu o copo de uma maneira singular. O dedão de um lado, o indicador, o pai de todos e o anelar do outro lado do copo. E o mindinho, pasmem, em riste. Teso, feito corda de cabo de guerra, a noventa graus da circunferência do copo. Isso mesmo, o mindinho lá, ereto, duro, feito pé-de-moleque, apontando para o teto. Brindamos novamente para conferir, e lá estava ele. O mindinho do Valdirzinho, parecendo uma antena de celular, em posição de sentido.
Pecado capital, decepção geral, banho de água fria. Não é possível, esse cara é veado! Esticou o dedinho pra pegar o copo. Sinal inconfundível do "gay power" e simpatizantes. Gesto secreto dos tomadores de iogurte diet, vinhos franceses e tónica Schweppes. Um xibungo, sem pór, nem tirar. Tudo indicava que já era frequentador de recitais, instalações e teatro de retaguarda. Nem precisava fazer o teste da farinha.
Brindamos mais uma, duas, três, quatro, cinco vezes. E a cena se repetiu. Não adiantava tentar mais, o cara esticava mesmo, na preliminar, nos noventa minutos e na prorrogação. Virou a casaca, amaciou o chassi, agasalhou a cacholeta.
Mas o olhar da Natasha na direção do mindinho, como criança que vê picolé e se baba, confundiu nossas mentes.
E o Valdirzinho, ciente da reação causada na platéia, veio logo explicando:
- Tá limpo, é a senha de acesso. A gente já tá indo. Passar bem, galera!






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