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Contos-->Consuelo -- 21/10/2001 - 20:26 (Marise Borges Melero de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Casara-se no dia anterior, em ato simples, que o juiz de paz concordou em fazer no pátio da vila.
Havia muitas cerimônias assim, naquela época, entre os imigrantes que aportavam no país, e a do seu casamento não fôra diferente. Juntavam-se sonhos e esperanças de duas pessoas que não tinham muito tempo para procurar o amor. Em sua busca pela segurança na terra estranha, um cônjuge era muito necessário, simplificava-se tudo para iniciar logo a vida.
Agora, depois da alegria causada pelo vinho da festa, restou a estranheza de ver-se acompanhada na cama. Olhou bem para seu marido que dormia e felicitou-se por encontrar um espanhol que lhe quisesse, e não um português ou italiano, ainda bem! Porque o pai já se impacintara com sua teima em não querer estes últimos, e os havia muitos em São Paulo, mas ela não gostava mesmo da aparência dos portugueses nem dos modos dos italianos.
E não era nada feio este seu Miguelito. Tinha muito mais idade que ela, que acabara de completar 22 anos, mas não aparentava os quase 40 que tinha. De pele e olhos claros como os seus, cabelos escuros e lisos, magrito e pequeno, mas forte. Certamente teremos belos filhos, pensou.
Ficou, então, muito quieta escutando a cidade amanhecendo em seus barulhos, que foram aumentando até acordarem o noivo.
Ele a olhou e acariciou seu rosto.
- Poso tocar-te, mi Consolación?
- Puede, pero no...
Miguel, ávido ainda de seu corpo, não a deixou terminar. E ela também o queria muito, apenas tinha que portar-se como uma noiva, conforme ensinou-lhe a mãe uns dias antes. E em meio às novas e boas sensações que descobria foi que sentiu o corpo de seu noivo baquear-se de encontro ao seu, e mesmo a pouca experiência não impediu-a de crê-lo desmaiado, pelo pêso quase insuportável em seu peito.
- Miguelito... sussurrou.
- Por Diós, Miguelito, por Diós...
Seu sussurro transformou-se em chôro, conseguiu empurrar o marido para o lado e buscou acordá-lo, em vão. Tentou ouvir seu coração e nada conseguiu,pensou em correr, pedir ajuda, mas ficou ali, paralisada. Não sabia o que pensar, mas tinha certeza de que ele estava morto. Ele não podia fazer tal barbaridade com ela! Não podia acontecer uma coisa assim, não na manhã seguinte ao casamento!
Acontece que Consuelo tinha seus princípios e valores, mas o que tinha em mais valia era a sua própria pessoa, e deparara-se com uma situação vexatória, que a tornaria alvo de maledicências para o resto da vida. Ela avaliou tudo muito rapidamente, enquanto vestia-se e fazia o mesmo com Miguel.
Avaliou, também, que não havia como consertar a situação. Não poderia sair à rua, conversar com as amigas que estariam na feira dominical, em risadinhas e rostos avermelhados de vergonha à sua chegada, e depois voltar ao quarto do hotel e fingir um ataque com o corpo do noivo. Não, definitivamente não teria estômago para tal, mas bem que gostaria diante da alternativa de ser a causadora de sua morte.
E as chances de arrumar novo marido, então, arruinaram-se. Ficaria uma eterna viúva a pesar no bolso do pai.
Bem, olhou-se no espelho e ensaiou um rosto desolado e assustado. Abriu a porta e gritou por socorro.

Passaram-se os dias e as semanas. Consuelo ficou de luto em casa, saindo apenas para a missa de um mês de Miguelito. Não casaram-se na igreja mas entêrro e missas foram providenciados.
Aos três meses de enlutada, começou sair, passeios na feira do domingo, para espanto e contrariedade dos parentes. Encontrou com as amigas, que não sabiam como tratá-la, mas ela tornou tudo fácil com seu jeito falante. Disseram que estava com ótimo aspecto, o que era verdade. E que o preto caía-lhe bem, realçando os olhos claros.
E para seu próprio espanto, descobriu os olhares masculinos. Sua viuvez e o modo como acontecera não espantou os homens de sua vida! Ao contrário, antes de completar um ano de luto, tinha alguns pedidos para avaliar, noivos de várias etnias para escolher. Casou-se e ajuntou-se muito pela vida, para desgosto da família.
Consuelo, quem sabe, ajudou a fomentar a lenda das espanholas quentes no Brasil.
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