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Artigos-->TRUBUFU DOS INFERNOS -- 04/11/2003 - 10:56 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A histérica demenciada respondia com monólogos ao bulício das díades e tríades formadas na vizinhança. Ela pirara na batatinha, e agora, viajava fácil na maionese. Por isso, desistindo da prosa, tomei o controle da tevê e pus-me a navegar zapeando.



Alí estava Mandona com suas vestes de couro negro, sobre o fundo branco daquela sua pele marmórea e rosada. Os movimentos lascivos atingiam em cheio a próstata dos mortais boquiabertos. Eu não teria como dar vazão à tamanha carga de erotismo que se avolumava nos meandros e escaninhos da minha anatomia; pressionei então o botão roxo e ví outra cena que se estampava naquela espécie de consciência vítrea: era um filme bom sobre o industrial zombeteiro, que se aproveitando da ingenuidade e sugestibilidade das operárias, as traçara todas, sem distinção inclusive, do estado civil.



O chefe comedor tinha um ardil específico pra driblar os trabalhadores renitentes: mandava-os a lugares distantes, a pretexto da consecução dos serviços pra fábrica, e na ausência, visitava as esposas, cantando-as e efetivando, então, o crau.



Troquei o canal e numa esquina dois garotos queimados pelo sol da tarde que passaram na piscina do clube parolavam alegres. Foi quando, de repente, um deles girando no ar aquele saquinho branco de plástico continente da máscara de mergulho, bateu com ele no rosto do outro. O agredido assimilou bem o golpe e tudo terminaria em algazarra se aquele filete de sangue não escorresse face abaixo.



O agressor assustou-se mais que a vítima. Esta aproveitando o abalo produzido naquele, numa simulação histérica, começou a chorar em altos brados, conturbando a paz da vizinhança.



A baita quizumba que se formou, num contágio sem precedentes, alastrou-se indo alvoroçar os pais dos irmãos antagonistas. Foi só pancada que sobrou aos pobres miolos constritos.

Mudei, rapidinho, o canal.



Dirigi minhas antenas auditivas pros lados da rua. Havia um silêncio divino. Pensei no caixa d´água farofeiro e barulhento que não gostava do sossego, eis que lhe produzia uma certa angústia insólita; ele queixava-se que aquilo tudo mais parecia um cemitério e lhe causava uma espécie de abandono, fome e frio.



O descocado, porém, não dava mostras da sua arruinação mental quando, se referindo ao filme Império dos Sentidos, dizia com voz pastosa e formal, que não morreria sem antes ver o Império dos Sentados.



Uma das táticas da resistência passiva, que o cachacista, trubufu dos infernos, empregava contra a ocupação da casa, por familiares seus, consistia em contaminar as bordas da bacia da privada e do bidê com saliva e, nos dias mais frios, arrebentar, com uma chave de fendas, os fios internos do chuveiro dos usurpadores.



O mata-borrão dizia-se moderno; e era-o tanto que nem suas hérnias eram mais as de disco, e sim de CD. Mas pra jogar bosta no quintal do vizinho, a fim de que aquele cachorro bonito comesse-a, não custava muito. O simples saber que o animal devoraria aquela merda toda dava-lhe um prazer incomensurável. Lembrei-me do mestre Gilberto Freyre, e o que ele dizia em Casa-Grande & Senzala, da editora Record, 32ª edição; especialmente o contido na pág. 326. Por associação, surgiram-me à consciência a peroração de José Lins do Rego a Gilberto, quando este estava fora: "Você é o maior dos brasileiros, mas não deve ter saudade do Brasil. Não venha tão cedo. É uma terra essa que não merece as suas saudades".



Não estava convicto de que deveria esposar as idéias do célebre escritor. Afinal vivíamos nos tempos áureos da televisão. E como você sabe, meu nobilíssimo leitor, a educação é tudo.

Eu creio.



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