CAÇA E CAÇADOR
Sílvio Afonso
Eu não fui a caça que querias, nem o caçador que eu pretendia,
tão pouco eu pequei na obediência dos mandos teus. Eu não me
curvei como pensei, eu não cedi como devia, mas rendi-me aos
teus desejos. Tu estavas nua do meu Deus e do diabo, não vestias
roupas do pecado e eu me vi boneco inflado, movimento ritmado
bem dotado e tu gemias de dor ou de prazer. Gemias e te mordias
calando o urro animal que vinha das cavernas do prazer. Pensei
que o bicho fosse pegar, mas me antecipei e peguei o bicho. Para
chamar tua atenção eu dei na tua cara mais do que devia. Mordi o
teu pescoço para não ser devorado por tuas prezas e comi os teus
mamilos para alimentar o corpo que tremia e o meu órgão que ardia.
Apertei com os braços, pernas e coxas o teu corpo como envolvem
as sucuris pra fazer morto o predador. Eu te devorei sem pressa e te
comi de frente, por cima e por baixo, pelos lados, e num último
espasmo de fuga, por trás te entregaste.
|