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cronicas-->O MELHOR LUGAR PARA ESTAR! -- 19/06/2001 - 03:04 (Martha Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MELHOR LUGAR PARA ESTAR!


A madrugada se faz anunciar lentamente pela claridade que incide sobre o banco. Uma claridade ainda sutil, encoberta e acobertada pela névoa da manhã de outono que se descortina diante dos olhos do mundo.
O vulto de uma pessoa se delineia nas primeiras luzes, um tanto irrequieto, porque ele realmente não é de ficar assim parado e esperando algo acontecer. Sorri, e pensa como as coisas estão mudando em sua vida ultimamente.
Ele sempre decide tudo, como, quando e onde fazer acontecer. Uma pequena ironia que ele silenciosamente divide com seu amigo, um cachorro, talvez o único ser vivo além dele que conhece aquele refúgio.
Com calma revê todos seus passos, levantou-se porque não conseguia conciliar o sono mais, vestiu-se, tomou o rumo do seu canto e na quietude de tudo aquilo entendeu que nada podia fazer dessa vez, tinha que aguardar.
A necessidade de esperar a hora certa, marcada, deixava-o agitado, inquieto, excitado porque não? Sentou-se e passou a revisar mentalmente tudo que acontecera nos últimos dias.
Lembrava de ter falado sobre seu refúgio, sobre como ele era, e de que forma ele se isolava. Ainda contara que sua companhia ali era o cão. E de alguma maneira, sabia que desde aquele momento estava fadado a ter que dividir este espaço um dia, com ela, ele sabia bem disso, era inevitável. Ela muito teimosa, obstinada mesmo, e ele sempre soube que não resistiria o dia que ela o colocasse em situação de cheque.
E acontecera. Ela comunicara a ele, apenas isso: Estou aqui e quero te encontrar.
Que agonia fora aquilo para ele. Nunca em momento algum imaginara que isso aconteceria, que ela viria ao seu encontro dessa maneira, que imporia sua presença e sua vontade. Mas agora estava feito. E ele ali parado aguardando como se estivesse no limite do certo e do errado. Estaria?
Os pinheiros, a água, as pedras, a grama, tudo aquilo era seu. Era. Estava deixando de ser em breve.
De repente, a névoa começou a dissipar-se e ele retomou sua aflitiva caminhada de um lado a outro, mais que nunca agora compreendia a extensão do que ia acontecer, e seu temor aumentava. Não sabia o que dizer, o que ela lhe diria, de que forma aquilo terminaria, apenas sentia que não bom ou ruim, mas que era surpreendente, quase extraordinário.
O calor do sol se apresentava agora, tênue, tímido, mas em busca de força, rasgando a neblina que se esvaía pelos campos, pelas montanhas, pelas cidades...... Por todo o mundo.
Passos, e de repente ele fica paralisado. Não consegue mover-se, nem virar a cabeça para onde vem o barulho, o pequeno cão está alerta, e ameaça rosnar, afinal, estão invadindo seu espaço, ele pressente isso, seu instinto não falha.
Sente primeiro a presença, depois um toque no ombro e o perfume. Flores e madeira, como ele imaginara, como deveria ser: fragilidade e força irmanadas numa mesma pessoa. Seria isso possível?
O toque era suave, mas sentia que a mão poderia ser firme se quisesse defender-se. Sorriu, quem precisava de defesa? Realmente ainda não sabia.
Ela então pergunta: vais ficar de costas para mim por toda a eternidade? Ou pelo menos posso ver o brilho dos teus olhos uma única vez?
Lentamente ele gira o corpo, mas não sem antes perceber que o cão estava quieto e sentado, e aquilo o surpreendeu, surpreendeu demais.
Primeiro os olhos se encontram, e ele percebe que ela está chorando, silenciosamente, as lágrimas escorrem pelo rosto, se perdem na roupa, mas o sorriso está lá. A mão dela se ergue toca o rosto, passa de um lado a outro, sente a pele, sorrindo ainda, chorando sempre, toca a cabeça, como alembrar-lhe uma história que contara sobre não ter cabelos... Ela nào falava mas ele parecia receber as mensagens telepáticas.
Claro! Agora ele sorria, ela sempre dissera que tinha um lado bruxa, e ele acreditava nesse momento, a sensação era muito intensa.
Interessante que ele não conseguia mover-se, ficava ali à merce daquele carinho, daquela mão que tocava sua boca, contornava seu rosto, e sorria para ele sem parar.
Nenhuma palavra dita, sem sons, só o silêncio total, a natureza apenas se manifestando, sem interferir.
Mas seu sossego terminara, ele sentia isso na pele, pois de forma muito sutil ela se aproximava dele mais e mais, e agora estava tão perto que ele sentia o calor dela apesar de ser outono, de começar um certo frio. Entre eles tudo era calor, um calor gostoso, vindo de dentro, saindo pelos olhos, incendiando tudo. Ele achava tão engraçado estar assim agora, refém daquela mulher parada à sua frente sem dizer palavra.......
Parecia uma eternidade, estava sendo uma eternidade.
Todas as palavras já escritas, trocadas entre eles nada preparavam para o que ele sentia vir dela agora. Era muito maior, muito maior.
Ele toma a iniciativa e se afasta dela, foge daquelas mãos e daquele olhar. Puxa-a pela mão até o banco, senta-se e ela senta ao seu lado, ainda silenciosa, ainda com medo. Medo? Ele sentia vontade de rir daquele pensamento bobo, ela não podia ter medo. Medo de que?
De repente um pedido: fala alguma coisa por favor!
Ela fica parada, ouve e não acredita, ele é real, ele existe mesmo, e aquele lugar é de verdade. Tudo junto.
E começa a falar sem parar, baixinho, suavemente, emocionada, relatando todos os seus temores, denunciando seus desejos, suas esperanças. Que bom poder dizer aquilo tudo olhando direto nos seus olhos.
Ela ainda falava, mas a ele não importava o que era, nem prestava atenção direito no que era dito, concentrava-se
no som, nos trejeitos. E sorria, ela nem percebera que falava sem parar, que suas mão agora presas nas dele, nào mais se governavam, pertenciam a ele. Seu controle, seu domínio.
Mas algo chamou sua atenção, uma palavra apenas: surpresa..
Ela dizia a ele, que nunca imaginara aquele lugar como ele era, e que apenas um momento neste tempo todo imaginou-se ali, sentada e com ele. E pediu: quero te abraçar, preciso te abraçar, sentir que é de verdade, que existe, que está aqui, que não foi uma ilusão criada na minha cabeça. Preciso, posso?
Os fragmentos da conversa se perderam no amanhecer, o sol envolveu os dois como numa redoma, e finalmente ela o abraçou, e chorava novamente.
Num momento ela o abraçava, no outro já não se sabia quem abraçava quem, era uma confusão de braços, de sorrisos, de lágrimas, de calor, de olhares. Nada mais importava, agora era real. Palpável, intenso, e totalmente real.
Novamente ela desanda a falar, lembrar coisas ditas, escritas, confidenciadas. Uma verdade da qual não havia como escapar.
Naquele silêncio, naquele lugar que ela fantasiara em sua imaginação tantas vezes, sentada ali, agora não tinha coragem de vasculhar com o olhar por temer sentir-se uma intrusa violando um campo sagrado, o seu campo sagrado, o lugar para onde sabia que ele fugia sempre que precisava ficar só.
E falava sem parar: lembrava das mensagens, de quando ele dissera que o mar estava acalmando, que breve o inverno passaria e deixaria vir talvez um verão imediato, lembrou das vezes que ele a chamara garimpeira, e ainda lhe incentivara a continuar fazendo pois estava arrancando dele coisas que outros nunca tentaram, lembrava ainda da citação de O Pequeno Príncipe onde a chamara de pequena rosa do planeta b612 (ela uma rosa? Como ele era bonzinho, e agora sorria abertamente), mas ainda considerava a melhor imagem de todas aquela onde ele referia que blocos de gelo se transformavam em iglus, sim, uma feliz lembrança.
Desde aquele dia, imaginara um lindo e enorme iglu, construído com blocos idênticos daquele enorme bloco de gelo no qual ele imaginara estar, um iglu para ser o refúgio, o local de aquecimento no rigoroso inverno, fora mais longe ainda... imaginara este iglu em um imenso manto branco de neve por todos os lados e a perder de vista, um trenó azul puxado por cães parado do lado de fora, apenas aguardando a saída para um passeio e uma nova aventura. Um sonho, quase realidade de tanto que desejara e visualizara.
E agora, ali sentada, frente a ele, no seu refúgio exclusivo, sentia como se roubasse daquele homem a última fronteira de isolamento do mundo, o seu objetivo real perseguido desde a primeira vez que ele lhe falara sobre a Antártida, fazer aquilo que agora ela ia lhe propor, se tivesse ainda um resquício de coragem.
Com o sol brilhando atrás das árvores, agora já encimando os pinheiros, com calor e força suficientes para aquecer e lhe dar coragem e finalmente fazer a proposta que trouxera oculta em seus pensamentos, teria coragem? Melhor ainda, teria sucesso? Nada importava, faria a pergunta e pronto, a hora é essa.
Olhou dentro dos olhos dele e disse baixinho: vem comigo? Vem? Vamos juntos derreter esse iglu, sair de novo de mãos dadas e ganhar o mundo?
Vem, vamos ser felizes. Sem medo algum. Vem?



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