Deixa-se poucas coisas.
Conosco são cremados, ou enterrados, os vícios, as aparências, as calças, as cuecas, os sapatos, cartões de crédito, automóveis, status, e todos os aparatos frugais da vida.
Deixamos filhos, se possível netos. E com eles um pouco do nosso carácter, dos nossos sonhos, uma penca de recordações e, se tivermos sido inteligentes, deixamos em seus corações uma fórmula. Para que vivam na simplicidade, que aprendam a sonhar nos olhos de quem vierem a amar. Que tenham pés sensíveis, que acolham o contato com a terra, e mãos carinhosas, que conheçam a suavidade das flores. E esperteza, para que aprendam a fugir das armadilhas do mundo ensandecido em que vivem. E amor, que saiba entender o sorriso das crianças, o olhar apaixonado de quem vai lhes acompanhar os passos, que ouça a melodia do trabalho útil, da vida sem frescuras, e do apelo dos que buscam uma mão.
E uma lembrança segura, que lhes mostre um espelho de felicidade... |