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Cronicas-->Bolo de Fubá -- 22/06/2001 - 00:32 (Adriana Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Modo de fazer: No meio de uma tarde preguiçosa, sinta aquela vontade ancestral de fazer um bolo fresco para tomar com café. Certifique-se que seu cara-metade, a essa altura pregado no computador, também sente a mesma vontade. Então vem a fase de escolher a receita ideal. Repasse de cabeça suas receitas favoritas: bolo de laranja (não tem laranja), bolo de maçã com canela (muita sujeira), bolo de chocolate (é, pode ser)... Desencave das gavetas os livros de receitas da sua avó, faça descer das prateleiras aqueles que sua tia deixou no outro dia, folheie seu próprio caderno de receitas, até que o cara-metade dê um berro: "Faz esse!". Fica escolhida então aquela velha receita de família, passada de geração em geração: bolo de fubá cremoso.

Vá para a cozinha enquanto o cara-metade retorna ao computador. Não se esqueça de lembrar que o momento de fazer bolo é um ritual exclusivamente feminino... Sinta vontade de pegar de pau o homem que inventou isso, mas lembre-se, quem se meteu a esse momento avó de Pindamonhangaba foi você. Deixe os ingredientes à mão:

- 3 xícaras de açúcar (confere)
- 2 xícaras de fubá (lembre-se que você não usa isso todo dia e vá buscar na despensa)
- 4 xícaras de leite (descubra um resto na geladeira e abra outro. Esse não! Vai misturar leite integral e desnatado!)
- 3 ovos (confere)
- 2 colheres de farinha (confere)
- 1 colher de margarina (sacuda para ter certeza que vai sobrar para o café da manhã)
- casca ralada de 1 limão (agradeça ao seu avó, que trouxe da chácara)
- 1 colher e meia de fermento.

Procure o fermento em seu lugar habitual. Nada. Procure no lugar antigo. Nada. Olhe nos armários, prateleiras, atrás da geladeira e na despensa. Chame a faxineira do pior nome que se lembrar por ter sumido com o fermento! Vá atrás do cara-metade, convença-o a tirar os olhos do computador e desfie o resto das ofensas à faxineira que você já se encarregou de pensar no caminho. Explique a ele que vocês PRECISAM ir ao supermercado comprar fermento, senão não tem bolo. Olhe-o com desprezo e pena quando ele perguntar se, já que a ida ao supermercado é inevitável, não seria melhor comprar um bolo pronto. Não tente convencê-lo da necessidade básica de assar um bolo e sentir o cheiro impregnando a casa inteira e matando os vizinhos de inveja: homens nascem sem a capacidade de falar sobre um assunto e colocá-lo em prática ao mesmo tempo.

Vista uma roupa adequada à atividade imprevista (ida-ao-supermercado-da-esquina) e volte a tentar arrancar seu cara-metade da tela. Uma vez realizada essa parte da tarefa, a mais difícil, tenha preparados um ou dois bons argumentos (como "quero aproveitar os momentos com você") para convencê-lo de que havia dito que VOCÊS -e não você sozinha- precisam ir ao supermercado.

Uma vez no supermercado, ainda que você consiga chegar à prateleira desejada de olhos fechados e mãos amarradas, não perca a oportunidade de andar um pouco e ver as novidades. Você sempre pode encontrar um macarrão Barilla em promoção! Olhe torto a cada vez que seu cara-metade sugerir que seria mais rápido levar um bolo de laranja da padaria ou um bolo de caixinha. Se ele mencionar bolo Pullman, largue-o no meio do supermercado.

Com o fermento em mãos, ponha mãos à obra. "Bata as claras em neve e junte devagar, mexendo suavemente, os demais ingredientes..." Pegue a batedeira e raciocine que é a primeira vez que você vê um bolo em que você mistura os ingredientes na clara e não o contrário. Então leia o resto da frase: "...os demais ingredientes BATIDOS NO LIQUIDIFICADOR".

Tire a batedeira da pia, pois só há uma tomada, ponha o liquidificador no lugar dela e meça a primeira xícara de açúcar. Visualize rapidamente os dois primeiros ingredientes -fubá e açúcar- sendo batidos no liquidificador... imagine aquele pó amarelo e doce voando pela cozinha inteira... então coloque o leite no liquidificador e depois os ingredientes sólidos. Maldiga quem teve a brilhante idéia de bater as claras em neve sem as gemas quando a casca do ovo afundar em pedaços ao invés de partir-se e a gema escorregar por cima do seu dedo. Não agradeça à sorte por ela ter ficado inteira antes de conseguir resgatá-la do meio das claras, usando o velho truque de usar a casca como íma, especialmente se você não se lembrou de usar a casca menos esfarelada de outro ovo.

Comece a ralar a casca do limão antes de verificar que o ralador não é usado há tanto tempo que as raspas estão presas em teias de aranha. Limpe-o antes de continuar a operação. Finalmente, bata tudo no liquidificador. Enquanto isso, unte a maior forma de buraco que você tem em casa e pergunte-se como sua avó conseguia realizar a complexa operação de enfarinhar o meio dela sem terminar tão coberta de pó branco que seu avó pensaria ter visto um fantasma. Desligue o liquidificador, tire o copo, guarde a base, volte a batedeira para a pia, ponha as claras para bater, ligue o forno e orgulhe-se da precisão com que você organizou seus movimentos.

Finalmente, junte à clara, devagar e mexendo suavemente, os ingredientes batidos no liquidificador. Tente deixar a coisa uniforme, mesmo tendo batido demais a clara. Derrame a mistura na forma e descubra que, afinal, era uma receita para dois bolos... Corra para o armário, pegue a forma menor, unte correndo, sem se importar se seus cabelos levaram mais farinha que a forma, derrame o resto da mistura nela e leve ao forno médio.

Enquanto assa, descubra que já são oito horas da noite e que seu cara-metade grita do computador que está com fome. Não se esqueça de manter um olho no forno durante todo o jantar e lembre-se sempre que fica um creme embaixo do bolo, então o teste do palito não adianta: estará pronto quando ficar dourado e bonito em cima. Quando isso acontecer, tire do forno e deixe esfriar à vontade, porque só no café da manhã mesmo alguém vai comer o tão falado bolo de fubá cremoso, receita de família.

No dia seguinte, tente não correr atrás de seu cara-metade com a tábua de carne quando ele cortar o bolo e disser: "Está mole, acho que ficou cru...".
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