Quando eu ainda nem pensava em namorar, ouvia certas moças dizerem que estavam flertando. Não entendia o que aquilo significava, perguntava e elas não explicavam direito, falavam que o fulano de tal era o máximo e pronto. Só depois de muita observação é que percebi o que acontecia. Ao cruzarem com certos rapazes na rua ou no clube, essas moças ficavam mais alegres do que o habitual e riam muito. Os rapazes davam um jeito de dizer alguma gracinha e elas riam mais ainda. Uma ou outra até ficava com o rosto vermelho.
Ouvia também as moças dizerem que nos bailes “tiravam linha”. Como eu não ia a bailes, permaneci muito tempo na ignorância, sem saber que linha era essa. “Dar tábua” nos rapazes chatos e “tomar chá de cadeira” eram expressões incompreensíveis para mim. Só mais tarde é que pude alcançar o significado de tudo isso.
De qualquer modo o flerte sempre me intrigou. Acho a palavra esquisita, mas o que ela encerra é até bonito. Um rapaz e uma moça se sentiam atraídos e, querendo confirmar seus sentimentos, passavam a examinar-se de longe. Como não podiam ou não tinham coragem de se aproximar, passavam tempos e tempos lançando-se olhares lânguidos. Talvez arriscassem uns passos no baile, trocando apenas palavras banais por causa do nervosismo.
Se ele fosse muito tímido, corria o risco de botar tudo a perder. Se fosse atirado demais, podia assustar a mocinha. A sorte é que eles tinham tempo, a vida corria mansamente e um dia tudo se resolveria.