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Erotico-->A RESISTÊNCIA DO AR - CAP 5 (MAURO VELASCO) -- 22/10/2014 - 17:07 (valentina fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para o amigo Touché acompanhar o prazer de Clarice, uma das últimas de Mauro Velasco.


Na segunda aula da oficina do conto, Clarice já estava na sala quando Rubem entrou. Ele cumprimentou todos os alunos, mas Clarice percebeu um olhar diferente na sua direção. O professor se sentou e começou a discorrer sobre a natureza do conto, suas principais características e a trajetória desse estilo literário ao longo da história da literatura ocidental.
Depois, deixou que fizessem as perguntas necessárias, respondeu-as e recomendou a leitura de dois livros sobre o assunto. E encerrou a aula avisando que no encontro seguinte fariam a análise de um conto de Maupassant.
Clarice prestou atenção em toda a aula, mas duas coisas aconteceram. A primeira foi uma intensa troca de bilhetes entre Gustavo e Isabela. Os dois jovens estavam numa conversa animada quando ela entrou e, durante a aula, continuaram se comunicando por bilhetes que eram passados com discrição, mas repetitivamente.
A segunda coisa foi que ela flagrou Rubem em olhares bastante interessados. Isso a deixou excitada de alguma forma. Sabia que Rubem observava seu rosto, seus traços, seu corpo, suas formas. Estava num vestido vermelho que, na opinião de Nina, deixava claramente os homens ouriçados seu ao redor. Tinha certeza que causara o mesmo efeito em Rubem.
O professor dispensou os alunos e começou a arrumar sua pasta. Ao passar por ele, Clarice ouviu-o dizer:
- Ontem fui ao "Mar de Histórias." Li um conto seu.
- É mesmo? - indagou Clarice, surpresa.
- Sim. Um conto erótico.
Ela ficou meio constrangida e baixou os olhos.
- Você consegue mexer com o leitor...
Ela o olhou de novo.
Fixando os olhos nela, ele disse:
- Pelo menos, mexeu muito comigo.
Ele deu um meio sorriso e ela agradeceu, distanciando-se.
Foi andando pelo corredor com a voz de Rubem ressoando em seus ouvidos. Ficou imaginando qual dos contos eróticos ele tinha lido. Eram vários, e muito ousados. Seu marido jamais poderia imaginar que ela escrevia aqueles contos quase pornográficos. Ainda bem que ele e sua família não eram de frequentar a internet, nem se interessavam por esse tipo de site.
Como não havia fotos dos autores no "Mar de Histórias", não era evidente a ligação entre ela e a autora do site. Afinal, há muitas outras Clarices, outras tantas Buenos, e de mais a mais ela não usava o sobrenome do marido, Ferreira, em seus escritos. A Clarice da família era Clarice Ferreira. A Clarice da literatura era Clarice Bueno. E ninguém imaginava que se tratava da mesma Clarice Bueno Ferreira. Pelo menos, ninguém que poderia se incomodar com o fato de escrever livremente aquilo que lhe dava prazer.
E escrever contos eróticos dava-lhe muito prazer, com certeza. Ainda mais ouvindo a opinião de Rubem sobre eles.
Enquanto pensava sobre isso, ouviu algo que lhe pareceu familiar. Vinha de uma das salas do corredor em que caminhava. Eram gemidos abafados. Aproximou-se de uma porta entreaberta no final do corredor. Viu Gustavo e Isabela no maior amasso. O rapaz passava as mãos nas costas e na bunda de Isabela, enquanto ela apalpava a virilha dele, obviamente sentindo o membro endurecido.
Clarice viu que não havia ninguém por perto e resolveu ficar ali, observando a cena. Os dois estavam cada vez mais possuídos de tesão.
Ela puxou a porta devagarinho, sem que eles percebessem, fechando-a totalmente. Não queria que alguém os flagrasse ali. E continuou andando pelo corredor, até sair do prédio e, cruzando o pátio da faculdade, chegar ao carro no estacionamento.
Sentou-se ao volante. O comentário de Rubem não saía da sua cabeça.
Ligou o carro e foi para o banco. Tinha um dia inteiro de trabalho pela frente.
À noite, de volta para casa, depois de tomar um banho relaxante, acomodou-se em frente ao computador, ligou-o e entrou no seu e-mail.
Conrado e Marquinhos tinham ido ao futebol, como acontecia toda quinta à noite. Ela ficaria sozinha até quase meia noite.
Leu alguns e-mails relacionados com seu trabalho. Um outro de Nina com a peça de teatro em anexo, da qual falara no almoço das duas, com o pedido para que ela lesse a fim de ver como podia escrever uns textos poéticos para o musical. Dois e-mails de propaganda. E um de sua irmã, Marisa, que residia fora do país.
De repente, chegou um e-mail novo. Lá estava, bem claro, o nome do remetente: Rubem Mesquita. Abriu-o e leu:

Imaginei que podemos ter uma aula somente sobre contos eróticos. Acho que seria interessante estudar autores de contos eróticos ao longo da história. E talvez você poderia levar um dos seus contos para ler em sala de aula.

Clarice leu mais uma vez. Ele estava agora lá do outro lado, on-line juntamente com ela, era só responder e ele leria na hora. Digitou:

Fico acanhada de mostrar meus contos.

Esperou. Nenhuma resposta. Deve ter escrito e logo desligado o computador, pensou Clarice. Mas logo veio a resposta:

Que bom que você está on-line. Podemos conversar um pouco.

Clarice continuou aguardando um pouco mais. Apareceu outra mensagem de Rubem:

Não fique constrangida. Seus contos são muito bons. A turma vai gostar.

Clarice falou que não acreditava muito nisso. Rubem perguntou desde quando ela escrevia. Ela informou que já escrevia há cinco anos.

Comecei a escrever para colocar no papel meus sentimentos, meus sonhos, minha visão da vida e das coisas do mundo.

Continuaram trocando mensagens durante vinte minutos falando da arte da escrita, de livros lidos, de autores prediletos. Clarice falou um pouco da sua vida, do marido, do filho. Rubem falou da sua mulher, da filha, do seu trabalho na universidade.
Quando Clarice comentou que, para ela, relacionamento amoroso era mais do que casamento, mais do que formalidades conjugais, mais do que o cumprimento de um papel, Rubem a surpreendeu com a pergunta:

Deseja viver um relacionamento amoroso que ultrapasse todas essas fronteiras?

Talvez. Se encontrar alguém que valha a pena.

Alguém que valha a pena significa alguém que consiga arrebatar seus sentimentos, estremecer sua alma, excitar seu corpo, incendiar sua mente, despertar seus desejos e fazer você se sentir uma mulher desejada?

Acho que sim. Acho que é por aí.

Quer dizer, uma paixão digna de um conto erótico.

Como?

Você gostaria de experimentar algo que seus personagens experimentam? Uma paixão cheia de prazer verdadeiro e completo.

Nunca pensei nisso.

Estou dizendo que você projeta em seus personagens aquilo que você mesma gostaria de experimentar. Estou dizendo que você busca um relacionamento profundo, intenso e inteiro, e não só o cumprimento de uns deveres estabelecidos pela sociedade.

Meus personagens devem ter mesmo muito de mim.

Você tem fantasias?

Sim.

As fantasias são uma válvula de escape. São contos eróticos da mente, não são? Qual foi sua última fantasia?

Demora na resposta.
Rubem insistiu.

Qual foi sua última fantasia?

Não chegou ao fim. Meu marido interrompeu. Foi ontem à noite.

Que pena.

Com você.

Comigo?

Sim. Imaginei você me tocando, vasculhando meu corpo com suas mãos, essas coisas.

E se excitou?

Muito.

Gostou do que sentiu?

Demora de nova.
Rubem também esperou sem teclar.
Clarice resolveu responder.

Sim, gostei.

Agora foi ele que demorou para teclar.
Algum tempo depois, veio a sua mensagem.

Quero que você conheça minha sala na universidade. Tenho alguns livros que podem te interessar. Quer me fazer uma visita amanhã?

Em sua sala?

Sim. Pode ser?

No horário do meu almoço. Passo por lá, sim.

A secretária vai avisar sua chegada e você pode entrar. Conversamos melhor.

Está bem. Amanhã. Meio dia.

Meio dia. Espero você.

Clarice fechou o e-mail. Alguma coisa queimava por dentro dela.
Alguma coisa que ela já sabia muito bem o que era.

Mauro Velasco

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