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Artigos-->A dieta de Marina Silva -- 12/11/2003 - 10:37 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Dieta indigesta



10.Nov.2003



Entre os dogmas mais caros que o PT carregou para o governo encontra-se um já velho desprezo pelas Organizações Não-governamentais, as ONGs, que nas duas últimas décadas, até onde a vista alcança, muito fizeram pelos excluídos do país. Gosto, porém, é indiscutível, diziam as avós. O que se pode dizer é que, para não gostar, é preciso fazer, senão melhor, pelo menos igual. E aí o governo se perde por inépcia. Um exemplo? Enquanto o Planalto rumina a soja transgênica em busca de solução que morda e sopre em todas as direções ao mesmo tempo, uma ONG, o Greenpeace, realizou uma tarefa singela – que deveria caber ao estado – e informa que os brasileiros estão se empanturrando de transgênicos do café da manhã ao jantar. Numa lista de 24 páginas (ver link abaixo) a ONG mostra que essa história de soja é pouco mais que bobagem. O governo está empacado numa conversa fiada. Os transgênicos chegaram à mesa há muito tempo.



A relação é vasta e vai dos alimentos infantis e cereais matinais às bebidas e sobremesas. Não escapam farinhas, grãos, óleos, molhos, pratos prontos, biscoitos, pães, massas, margarinas e até rações de animais. Por ridícula, a situação poderia até ser engraçada: os ecologistas de sempre protestam contra a soja e entopem-se de transgênicos nas pausas para refeições. De certa maneira é como sempre fazem diante da construção de condomínios e prédios, e calam em relação às favelas que destroem lagoas e florestas. Só não é cômico porque a falta de aviso sobre a presença de transgênicos nos rótulos dos alimentos mostra que o controle ambiental no país e a saúde do povo estão nas mãos do Demo.



Quando alimentos simples, como fubá, são feitos com milho geneticamente modificado, não há muito o que esperar e até justifica-se que produtos mais sofisticados (Yakult, por exemplo) sigam no mesmo caminho. É o que aconteceu com algumas papinhas de bebê, com os sucrilhos, que muitas crianças veneram, e até com o Ovomaltine, um velho campeão na audiência matinal. Nada contra. Se até hoje não se pode dizer que organismos GM são bons para a saúde, tampouco se pode afirmar o contrário. Em alguns casos eles são usados até para tratar da saúde. O Brasil tem milhares de diabéticos que diariamente afastam o destino cruel que essa doença reserva graças a doses de insulina transgênica.



Mas quem combate carrega nas tintas. Para o Greenpeace, “transgênicos causam o aparecimento de plantas daninhas e pragas resistentes, o que aumenta o uso de agrotóxicos e torna os agricultores dependentes de empresas como a Monsanto”. Não é bem assim. Na verdade existe o temor de uma reação natural aos geneticamente modificados. Como são organismos mais resistentes às pragas e como o comportamento da natureza é evolutivo, teme-se o surgimento de uma super-praga, que exigirá um super-agrotóxico e tudo ficará pior do que antes. Até agora, porém, ninguém com conhecimento científico bate o martelo nessa tese.



Também se diz que as empresas de biotecnologia ameaçam a segurança alimentar porque pretendem obter o monopólio da produção de sementes. Isso é só mais um argumento furado. Para ficar só no caso brasileiro, a estatal Embrapa sofisticou suas pesquisas a ponto de produzir sementes GM para cada região. A soja transgênica que se planta hoje no Piauí não é a mesma do Rio Grande do Sul, onde o clima e as temperaturas médias são muito diferentes.



Preocupante, mesmo, é o fato de os transgênicos estarem sendo empregados na composição dos alimentos sem que exista consenso sobre isso entre os cientistas. Recentemente, em Recife, 700 desses especialistas passaram uma semana discutindo e produziram um documento no qual garantem que não há perigo para a saúde e que, do ponto de vista tecnológico, a produção representaria um salto para o país. Quem não quer saber de transgênicos, porém, acusou esse pessoal de estar a soldo de multinacionais. Virou bate-boca sobre quem está recebendo dinheiro de quem e a batalha tornou-se ideológica. Como sempre acontece no Brasil, a discussão foi para debaixo do tapete e o governo, pressionado pelo ambientalistas - mas também querendo livrar-se deles - tentou esvaziar a Comissão de Bio-segurança, foro privilegiado onde apitam os cientistas.



Nada disso, no entanto, legitima o emprego de organismos geneticamente modificados na alimentação do brasileiro. A indústria até poderá afirmar, com razão, que a falta de regulamentação é a porta aberta para o uso. Mas o que está em questão, na verdade, é o fato de o poder público negar ao consumidor o direito de saber o que contém e como são feitos os produtos que consome. Uma espécie de dever de casa que os governos às vezes fazem para que o contribuinte se sinta mais bem atendido pelo tanto que paga de impostos. No caso dos alimentos GM, o Greenpeace fez o que o Planalto deveria ter feito a partir do momento em que afastou as ONGs: escreveu uma cartinha à indústria alimentícia perguntando quais empresas poderiam afirmar que não usam organismos GM na elaboração de seus produtos. Com base nas respostas criou uma lista e a divulgou. Simples, não? Para um governo, todavia, a tarefa é quase impossível.



A mão do estado é muito grande. Não cabe em nichos. Daí o sucesso das ONGs, que estão sempre mais próximas e conhecem melhor seus clientes do que qualquer repartição pública. Mas esta não é idéia que encontre acolhida no governo do PT. Vigora ali a certeza de que o estado deve prover tudo de que o cidadão necessita. Isso tanto pode ser uma convicção velha como como a expressão “materialismo dialético”, como pode incluir-se na estratégia de perpetuação no poder. Quando o governo não fala em parcerias, mas em contrapartidas e doações, parece claro que ao cidadão sempre se tentará fazer crer que o estado é o único benfeitor. Seja o que for, marginalizar as ONGs, pode ser mau negócio.



Nos 10 anos que precederam a chegada do PT ao poder essas entidades talvez tenham conhecido o seu melhor momento. Chegaram a movimentar algo em torno de 10% do PIB e a empregar perto de 1,5 milhão de pessoas. Hoje muitos desses profissionais estão sendo chamados pela iniciativa privada para formular programas sociais em empresas. Na aparência, não houve grande perda. Na realidade o prejuízo é gigantesco. Com as ONGs postas à margem, o governo perde um importante termômetro e se repete nas bobagens. Rendeu-se ao lobby da recauchutagem e abriu o país à importação de pneus usados, quando já não sabia o que fazer com 100 milhões de pneus velhos, um dos piores rejeitos que a humanidade já produziu (em apenas uma semana de trabalho, a draga que executa uma meia-sola num pequeno trecho da lgoa da Tijuca, no Rio, recolheu 50 pneus velhos do fundo. Na maioria, recauchutados). Autorizou a venda da madeira derrubada ilegalmente na Amazônia. Cedeu à voracidade dos quadros do PT por cargos públicos e acabou trocando chefias bem-sucedidas de parques nacionais. Disso, por reflexo, resultou a reabertura da estrada do Colono, no Paraná, e a destruição de mais de 12 mil árvores que haviam sido replantadas para recuperar a área (quase cinco anos de trabalho perdido). Aceitou a venda e autorizou o plantio de mais uma safra de soja GM. Fez vista grossa para as queimadas que precedem o plantio da soja em áreas ocupadas pelo MST no Mato Grosso. E ao final dessa sucessão de desastres, não graças ao trabalho do governo, mas do enxotado Greenpeace, descobre-se que o país onde a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é militante da causa ecológica come alimentos geneticamente modificados o dia inteiro.



xicovargas@nominimo.ibest.com.br"













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