Enquanto ele discursava, havia algo que não me deixava desviar o olhar.
Aqueles olhos...as mãos gesticulando, o discurso empolgado... enfim, tudo chamava minha atenção.
O tempo passou, e todo aquele tempo serviu para acumular uma vontade de estar perto, de tocar... sei lá...
Depois que aquele período finalmente chegou ao fim, imaginei que nunca mais o viria, afinal, aquele era, sem dúvida, nosso único elo de ligação.
Um dia, estava no trabalho e ele ligou. Fiquei estática, não sabia o que dizer, e aproveitei a oportunidade, vestida do embaraço que me cabia naquele momento, para falar sobre alguns pontos daqueles eventos que tínhamos participado.
No íntimo, sabia bem, quem não era sobre aquilo que ele gostaria de falar. No final ele me convidou para almoçar, e eu aceitei.
Passados alguns dias, chegava o momento do encontro. Nos encontramos direto no restaurante. Ele já estava à minha espera.
Estávamos, os dois, desconcertados. Nunca havíamos tido um momento como aquele. Antes só nos víamos, cercados da multidão, que acompanhava os comícios, e apenas nossos olhares se encontravam, e disfarçavam o desejo que tínhamos de estar juntos.
Falamos sobre muitas coisas, e entre uma coisa ou outra, ele elogiava meu sorriso, meu jeito, e era muito bom.
Um dia, ele pôs uma música no rádio do carro, pra que eu ouvisse, bem no meio do dia. Uma gostosura.
Passamos depois disso, muitos momentos agradáveis, almoçamos outras vezes, e em outras ele me visitou no trabalho, coisa rápida, perto do final do expediente.
Sempre que nossas mãos se tocavam, ou nossas pernas por debaixo da mesa, eu sentia um calor gostoso, que percorria me corpo inteiro.
E nesse tempo, tudo foi muito bom.
Seu carinho, sua atenção e seu desejo, expresso em palavras, no olhar e nos gestos.
Não tivemos mais que isso. Nossos desejos tiveram morada, apenas nas intenções, mas, guardei comigo, cada segundo, cada gesto, cada sorriso, cada olhar.
E de tudo isso, apesar de secreta, ficou muito clara nossa intenção de amar.

Valentina Fraga.