Já escrevi que tenho inveja do sucesso do meu ídolo maior, Luis Fernando Verissimo. Agora vou me contradizer. Tenho pena do escritor gaúcho. O pobre é obrigado a escrever ao menos uma crónica por dia, para que seja publicada em alguns dos jornais brasileiros. É obrigação. É contratual. Isso pode Ter um lado positivo (mais uma vez travo uma luta mortal contra o Word, que insiste em colocar um T maiúsculo na palavra Ter. Acho que me dei por vencido.), pois força o escritor a escrever qualquer bobagem, mas pelo menos ele escreve algo. Li uma entrevista - acho que de Isabel Allende - em que a autora afirmava não ser tão difícil nem tão trágico escrever um romance longo. Bastava o autor escrever uma página por dia para, ao final de um ano, Ter um romance de 365 páginas pronto para ser entregue à s editoras. Mesmo que forçosamente.
Separo minhas Cronicas em duas categorias: aquelas que saíram espontaneamente, sem esforço, numa tacada só, e as outras forçadas, como se fossem uma obrigação. A diferença entre ambas é notória. As naturais eu pouco reviso; as fórceps, escrevo em três dias e sempre acho que tem alguma coisa para ser melhorada. Quanto à primeira categoria, sempre valorizo a essência. Foda-se a Gramática. Não estou nem aí para erros conceituais. Mas quando escrevo uma crónica forçada, me auto-flagelo. Fico querendo melhorá-la a qualquer preço, a cada leitura, mesmo não tendo mais conserto.
Moral da história: as vezes tenho vontade de escrever e não escrevo; Ã s vezes estou sem saco para fazer um bilhete e publico alguma coisa. Hoje é um dia desses.