Aquecia-me a alma a ideia de que o teria por perto em pouco tempo. Sempre que viajava para os congressos de história da arte, me deixava cheia de saudades, e sempre que me punha a pensar nele, transbordava de desejos, e buscava consolo por todos os caminhos disponíveis.
Somos dois artistas, com caminhos bem diferentes. Ele, professor de história da arte, com algumas poucas obras práticas, o suficiente para apresentar em seu curso de formação. Havia poucas esculturas em seu pequeno atelier, que mais parecia um escritório, super decorado, e se por ali não se podia ver obras autênticas de pintores ou escultores famosos, algumas réplicas autorizadas, davam um tom de muito bom gosto a quem quer que visitasse o local.
Não se pode falar mesmo do meu estúdio, que era simplesmente um grande emaranhado de tintas, pincéis, telas, e algumas esculturas começadas e não finalizadas.
Falávamos basicamente mesma língua, sendo ele na teoria e eu na prática. Havíamos trabalhado juntos para a criação de um Centro de Artes da cidade que moramos, e foi assim que nos conhecemos. Dessa vez, havia passado quase trinta dias fora e eu já o aguardava ansiosa.
Não fui busca-lo no aeroporto. Preferi que viesse de taxi. Pensei em busca-lo e partirmos direto para um hotel, pra me abrir inteira, e deixar que ele mergulhasse inteiro, até a minha alma, mas também sabia que a rotina intensa dos últimos dias e a troca sucessiva de hotéis não o agradava.
Preferi então preparar uma boa pasta, acompanhada de um vinho de boa safra, coisa que ele havia me ensinado bem, para marcar o reencontro de forma quente e gostosa.
Logo que tocou a campainha do flat onde moro sozinha abri a porta e o recebi, apenas de camisola, toda transparente.
Meu corpo estava quente de desejo, e se arrepiou inteiro correspondendo ao olhar faminto que partia dele.
A intenção era jantar primeiro, para alimentar o corpo,enquanto colocávamos o papo em dia, mas a fome era bem outra. Era fome de sexo, de amor, de carnes roçando, das salivas e do gozo se misturando, da doação do corpo, sem falar na entrega da alma.
Só depois de nos provarmos e nos devorarmos inteiros, pudemos voltar a este mundo, para só então trocar nossas experiências profissionais e nossa vida comum.
Isso tudo só serviu para ter certeza que só ele me enche de prazer.
Assim passamos o resto da noite, alternando pasta, vinho, um bom papo e muito prazer. |