Agora pouco, olhava pela ampla vidraça do meu trabalho, a chuva torrencial que descia do negro céu.
Entre um atendimento e outro, permitia-me viajar para outro tempo, outro lugar, um outro momento, onde existia, a chuva, a vidraça,
eu e você, e uma vontade louca de conhecer, de tocar. de beijar, de sentir o cheiro, o gosto, o toque.
Tudo tão perto, tão disponível, e ao mesmo tempo, sem abrigo.
O que eu queria mesmo, era pular para o banco de trás daquele carro, tirar a roupa e me entregar.
Sentir o calor da tua boca em meus seios,
Sentir o toque da tua mão, deslizando pelo meu corpo nu.
Deixar tua virilidade, penetrar em minhas carnes quentes
e molhadas de tanta excitação...
Poderíamos mesmo, consumar ali, o que consumaríamos
em qualquer outro lugar.
Estávamos tão vestidos, tão abrigados,
e cheios de um desejo tão forte de nos sentir.
Aquele momento ficou para depois.
Guardamos nosso desejo,
apagamos momentaneamente o fogo,
saciaríamos a sede em outras águas,
devoraríamos outras carnes,
imaginando saciar ali a nossa fome.
Voltamos para casa, tontos e doloridos
de tanto desejo, na louca expectativa de outra vez
nos encontrar.
Valentina Fraga |