Ficou acertado que eu teria aulas de catecismo com Lili, prima de papai que era freira.
Ela pertencia à Ordem das Sacramentinas e vivia no convento. Como religiosa, chamava-se irmã Maria do Carmo.
Durante um certo tempo, todas as tardes eu me dirigia para aquele convento e ela me acolhia na sala de visitas. Só percebíamos o vulto das enclausuradas através de uma treliça
Para dar-me as lições de catequese, Lili abria uma portinhola, deixando à mostra seu rosto redondo contornado pelo hábito creme. O pescoço era coberto por um pano branco e engomado que descia até o peito, como se fosse um babador gigante. Por cima dele, um crucifixo pendurado numa grossa corrente. As mangas de sua roupa eram largas e de vez em quando ela fazia sumir suas mãos ali dentro. Em volta da cintura, usava um cordão branco.
Eu tinha ouvido contar que freiras de congregações que viviam enclausuradas faziam muitos sacrifícios, deixando de comer ou dando-se chicotadas como penitência. Mas Lili não me parecia tão sacrificada assim. Até que era gordinha e bem saudável.
Sentada na cadeira de palhinha, ouvindo a freira discursar, aprendi tudo o que era necessário para se fazer a primeira comunhão. Além dos ensinamentos sobre a vida de Cristo, decorei os Dez Mandamentos e inteirei-me dos Sete Pecados Capitais.
Confesso que decorei tudo direitinho, mas compreender, não compreendia.
Palavras complicadas como “soberba”, por exemplo, eram um mistério. E os mandamentos, então! “Não dirás seu santo nome em vão”, “honrarás pai e mãe”... Nada disto tinha significado para mim.
Tampouco eram esclarecedoras as explicações da Irmã Maria do Carmo...