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Artigos-->002 - O Pitoniso -- 14/11/2003 - 06:25 (Carlos Alcino Valadão Lopes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Godofredo resolveu.

- Vou ser Adivinho.

Não agüentava mais aquela dureza, aquele vem e vai de Big Field a Central City, aquele minguado que teimavam chamar de salário. Até que era uma boa idéia, afinal de contas o fim do ano estava chegando e tinha gosto para tudo, cartomante, tarólogo, pais-de-santo, guru. Mas isto tudo já estava muito batido. Ele queria uma coisa nova, algo assim que o projetasse rapidamente, que o colocasse entre os melhores e pensou em avô-de-santo. Claro, se santo tem pai e mãe, tem que ter avô também e além do mais, avô causava melhor impressão e todos os pais e mães teriam que lhe respeitar, afinal, ele era mais velho, era pai do pai ou da mãe.

Mas como ser famoso ? O que fazer para se tornar conhecido ? mas claro, como não havia pensado nisso antes, o negócio era fazer umas previsõezinhas, nada muito grave, algo assim bem corriqueiro, tipo ... "esse ano vai morrer um político de renome, um artista famoso e um jogador de futebol do passado". Porreta. Ia ser muito azar se dos não-sei-quantos turistas do planalto, um pelo menos não fosse conversar com Demo naquele ano, mesmo porque lá tem alguns que foram cabo eleitorais de Jeová. Artista tá sempre se metendo em droga e além do mais todo mundo é artista mesmo. Ele tinha pensado primeiro em dizer que seria um Imortal, mas depois do Astralgésio era melhor não facilitar, vai que ele faz escola. E quanto ao jogador do passado, esse era o mais fácil porque além de ter muitos na miséria, já estavam passados mesmo. Pronto agora era colocar anúncio no jornal do povão e esperar que suas previsões dessem certo para chover consultas no seu terreiro.

Por falar em seu terreiro aonde é que ia ser o seu terreiro? Em casa é que não podia, a nega não ia gostar do assunto. Com toda a razão. Aquele quartocozinha, tão apertado que não cabe nem as palavras por inteiro, já tava todo ocupado, ocupado não, melhor dizer entupido. Uma porcaria de “I”. Deveria ser imóvel mas como móvel ele não tinha nenhum mesmo ficou só o "I". E piorou mais ainda depois que a Nega Jaci e aos 8 teimosos (teimaram em nascer e a sobreviver) juntaram-se a sogra, o sogro, bêbado logicamente e com uma ferida na perna que é já para nem se quer se falar em trabalho, o cunhado corretor “lotérico”, a cunhada com o marido desempregado e os 6 teimosos deles, mais a vizinha que o barraco havia desabado e a quem eles deviam alguns favôres, o seu rebento (de arrebentar) funkeiro da galera do arroto e a galera do arroto toda, que fazia ali seu clube de encontro. Realmente terreiro ali nem pensar, aliás, se alguém pensasse alto ali, jogava dez morro abaixo. Então ele meditou, porque avô-de-santo não pensa, medita, e teve uma idéia. No galinheiro, com algumas reformas até daria certo, afinal ele mesmo não tinha expulsado semana passada uma família de 13 paraíbas que invadiram o local e acabaram por comer as últimas penas de galinhas que ainda tinham sobrado no dito cujo. Se cabiam 13 cabeças chatas, não apertando muito dava pra dar consulta para os clientes e até, quem sabe, dependendo da sorte, ter alguns neto-de-santo.

E assim seguiu imaginando até se desovar num monte de escombros que antes era sua casa. Socorrido por alguns "do Arroto", foi saber que a encosta do morro deslizou e com ela foi no tobogã o abrigo da patota toda. Ainda meio desorientado foi levado para a sua cama, de jornal de domingo, colocada no canto esquerdo do galinheiro, que agora era o seu quarto. Adeus Terreiro.

E para completar, naquele ano não morreu nenhum político, artista nem jogador de futebol do passado. Pelo menos ele acertou no Astralgesio, que também não morreu. Graças a Deus.

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