Parece ironia que o filho do Verbo ande calado entre o céu e a terra... Uma grande incoerência que aquele que um dia ensinou a Paz, ande de um a outro horizonte agonizante por ouvir o que ouve, justamente porque o seu nome é o assunto das bocas espumantes dos profetas que permeiam suas moradas entre os lobos e as serpentes...
Porque a verdade da boca desse homem de quem falo está muito mais para o silêncio que para as palavras...
E quando eu disse aquilo que um dia ouvi quando os meus pés caminharam os caminhos não percorridos pelos animais que rastejam o chão, os homens se calaram, querendo dar a entender que era do silêncio deles que eu falava. Mas eu também me calei fazendo do meu silêncio a verdade a respeito deles, e naquele dia me foi mostrado que quando eles não falam, esse espaço (sem som audível) é o que mais há de barulhento nos seus inconstantes corações... Pois que é o silêncio deles senão maquinações?...
Mas o silêncio do meu vizinho (de caminho e coração) é o grito mais alto e expressivo que há no silencioso espaço acima dos céus e dos céus dos céus... E há nele o som bonito, que todos os que um dia imaginam que possa existir tal beleza tentam imitar. E cantam músicas (outra vez feitas) com o nome daquele de quem mais uma vez eu falo...
E quando aqueles novamente me olham, se calam, fazem dos seus silêncios uma cadeia que prende mais que as que já de antemão volteiam e apertam seus corações... E é assim que os seus afazeres ficam outra vez confinados como um aborto entre a angústia e a agonia das trevas em que vivem e que argumentam nos seus discursos barulhentos e vazios dizendo ser a luz...
O silêncio santo de que falo é um descanso significativo de quem sabe que tudo foi concebido está feito em bem feito por mãos que talharam tudo o que de mais perfeito há... Porque àquilo que foi feito não podem ser acrescentadas nem palavras nem trabalhos de homens...
Mas os silêncios daqueles outros é contado como a condenação de todos os ídolos que tem bocas e não falam... E ainda que gritem, as suas palavras são sem valor e o melhor delas há de cair em ouvidos moucos...
Porém falo de um silêncio tão elevado quanto o canto que é entoado dia e noite ao redor do trono mais santo...
Hoje tanto faz eu calar como falar do que sei do silêncio deste homem... Pois ele (o Silêncio) é a própria Verdade e ela triunfará mais cedo ou mais tarde, sendo ou não dita...
E os que conhecem a Verdade silenciam isso em seus corações...
E os que não são, não hão de que verdade eu digo, mas de que homem estou falando...