- Minha filha, acorda, tá na tua hora de ir trabalhar!
- Ah! Mãe, to tão cansada. Deixa eu dormir mais um bocadinho.
- Não dá minha filha. Se não você perde o ônibus e vai ter que ir a pé pra cidade.
- Tá certo mãe. Afinal alguém tem que por dinheiro nesta casa.
- Ah, minha filha, não fala assim não, que me dá uma gastura.
- Minha mãe, eu não quero ver a senhora triste, mas só eu trabalho por aqui.
- Você sabe que eu não posso mais trabalhar por causa da queda que eu levei...
- Da surra que a senhora levou, daquilo que a senhora dizia que era meu irmão!
- Ele tava doente...
- Drogado!
- Filhinha, não se fala mal dos mortos...
- Eu não estou falando mal minha mãe, estou dizendo somente a verdade. E quer saber? Acho ótimo que a polícia tenha matado ele, assim a gente sofre menos.
- Quando você fala assim, eu tenho até vontade de me matar, também.
- Chega mãe! Basta só uma suicida nesta família, se é que podemos nos chamar assim.
- Ela não se suicidou, apenas errou ao tomar o remédio...
- Mãe! Confundir analgésico com veneno pra rato !?
- Ela estava nervosa, com problemas...
- E grávida do seu marido.
- Do seu pai!
- Ele deixou de ser meu pai, desde o dia que me estuprou. E só não me engravidou daquela vez, por pura sorte.
- Mas foi só daquela vez.
- E precisa mais de uma vez, para nos roubar a infância e impor a realidade da vida adulta?
- Não foi de propósito, ele tava... Ele tava...
- Bêbado! Aliás, como sempre.
- Ele nunca mais te importunou...
- Pois não é que é mesmo. Será que foi por causa da facada que eu dei nele quando ele tentou?
- Minha filha, às vezes você é muito cruel
- Cruel é a vida que a gente leva. Cruel é não saber por que a gente é tão castigada enquanto os “riquinhos” fazem coisas piores e nem são presos. Cruel é quase ter certeza que vai acontecer o mesmo com a minha irmã menor...
- Cala essa boca suja, sua... Sua...
- Prostituta! Pode falar, mãe. É isso mesmo que eu sou. Não por que eu quis, mas por que “quiseram” por mim. E quer saber? Eu acho que foi até bom, pois dessa forma eu posso sustentar vocês todos.
- Minha filha, me desculpe. Eu não quis dizer...
- Quis sim mãe, mas eu não me importo, até já me acostumei. E deixa eu ir trabalhar senão chego atrasada e só pego aqueles “velhos babão”, que demoram tanto, isto quando conseguem, que acabam me dando prejuízo.
- Pêra aí, minha filha. Toma. Isso aqui é pra você.
- Que é isso mãe? Uma boneca? A senhora tá maluca? Nós não podemos gastar com luxos não! Trate de devolver!
- Mas minha filha é pra comemorar o dia de hoje.
- Que que tem o dia de hoje?
- É seu aniversário. Hoje você está fazendo treze anos!
- E isso lá é motivo para eu comemorar?
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