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Poesias-->Feira da Noite -- 23/12/2001 - 10:04 (Carlos Alberto de Souza Quintanilha) |
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Esta é a feira da noite
comprai os seus tambores
nas ruas largas e louras
do seu pescoço faça adornos.
Esta é a feira do açoite
os escravos roucos gritam ofertas
e as putas, nos umbrais mais sombrios,
se ofertam ao preço de uma morte lenta.
Esta é a feira das pessoas humildes
dos bicheiros, lixeiros, obreiros e desocupados.
Esta é a feira dos preocupados
com a vida, com as trapaças
de cada esquina.
Esta é a feira da cachaça
da macumba e da desgraça
das criançinhas sem corpo
e das mulas sem porte
das unhas grandes e caidas
das feridas mais em chagas
e dos olhares mais venenosos.
Esta é a feira dos idosos
dos fiascos e desafios
dos churrascos e frascos
do perfume mais ordinário.
Esta é a feira da fome
do homem baldio e da flor deflorada
da cachorrada e dos uivos
dos gritos e dilúvios.
Esta é a feira da vida
é a menina-moça já mulher
e da mulher já moça
e até de quem ouça
dos tambores, um lamento tardio.
É a feira da xepa gorda
das bolsas cheias de furtos e roubos
dos bolsos abarrotados
de níqueis, vintens, tostões e réis
a feira dos dez pecadose mil mandamentos.
A feira que termina de manhãzinha
quando os garis varrem
jorram água e creolina
fazem a faxina e se vão embora
deixando para trás o início da feira
da feira do dia...
e tudo, da feira da noite,
termina
05.08.1978.
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