DOCINHOS DA VOVÓ
Vovó Adélia era exímia doceira. Fazia sempre goiabadas, compotas e doces de frutas cristalizadas. O que eu mais apreciava era o de abacaxi. Pedaços da fruta sequinhos e macios, cobertos de açúcar... que delícia!
No porão de sua casa havia um local reservado à armazenagem: goiabadas em caixetas, vidros de compotas de figos, goiabas e pêssegos ficavam ali guardados para serem consumidos durante o ano inteiro.
Mamãe contava que o mais difícil era o tal de abacaxi cristalizado. Depois de várias horas de cozimento, vovó “pescava” as fatias e colocava uma a uma num varal, para que a calda escorresse. Restava por cima somente uma cobertura adocicada.
Em nossa casa também fazíamos alguns doces. Quer dizer, mamãe fazia e as crianças só ajudavam.
Para a compota de figos nossa participação era importante. Dava bastante trabalho, tínhamos que descascá-los com gilete. Segurando a lâmina, punhamo-nos a golpeá-los. Não era tão simples. O trabalho minucioso exigia leveza e precisão de movimentos. Além do mais, das frutas escorria um leite esbranquiçado e queimava nossos dedos. Bom mesmo era saboreá-lo depois de pronto.
Mais fácil era tirar sementes de goiabas, que depois viravam geléia. Descascadas e ocas, elas iam para o tacho de cobre, num rancho lá no fundo do quintal. Sobre um fogão de lenha baixinho, o doce ficava borbulhando. Enquanto borbulhava, tinha que ser mexido sempre, com enormes pás de madeira, como se fossem remos.
No tempo das amoras também havia muita geléia lá em casa.
Doce de leite não tinha época certa, aparecia em qualquer estação. Eu não gostava, achava-o açucarado demais e sua aparência, com mil pelotinhos, tampouco me entusiasmava.
Tudo isto era muito gostoso, entretanto, o que mais agradava às crianças era o creme de abacate que ia para a geladeira em forminhas de gelo. Mal podíamos esperar pelo resultado.
Algumas horas depois, viravam deliciosos sorvetes! Quadradinhos!
Beatriz Cruz
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