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cronicas-->Saída heterodoxa -- 03/07/2017 - 10:07 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Saída heterodoxa

Aroldo Arão de Medeiros

Quando alguém inicia um jogo de dominó, quase sempre joga um dobre, uma das pedras que tem os dois lados iguais. Existem comentários que já se tornaram folclóricos ao começar o jogo com determinados dobres. Com a barata (zero e zero): vou sair com nenhum ponto para ganhar bastante. Com o dobre ás (um e um): é olhinho de pinto. Ao jogar-se o dobre terno, comenta-se: mesmo com o calor que está fazendo, vou sair de terno. Vou sair de quatro para chegar em pé, é o comentário que se faz quando se sai com o dobre quatro. Quando alguém sai com o dobre quina, o adversário esnoba: quem sai com o dobre quina jamais chega (ganha). A carreta, ou dobre sena, é a pedra mais visada no jogo. Quem começa com ela diz: vou sair com a pedra mais leve, fato explicado por ela ser a que tem mais reentràncias, logo, menos pesada.
O saidor, quando não tem um dobre, começa com os naipes que ele tem mais. Para surpresa geral, um nosso amigo, descendente de franceses, o Furtê, metido a jogador diz, enfaticamente:
- Vou sair com uma pedra heterodoxa.
Ultimamente, tenho jogado dominó com uma turma bem heterogênea, tanto na profissão quanto no gosto pelas bebidas, e até no jeito de se vestir.
Vejam o Manecão, alemão de quase dois metros de altura que chega cumprimentando a todos com um estridente Zulu. Quando ganha a partida, levanta a mão e bate na palma do parceiro e entoa um vibrante Zu. A bebida que o acompanha todas as noites é vinho com Coca, ou com Pepsi. Traz para a mesa do jogo o jeito alegre de ser, mesmo após um dia cansativo de trabalho no Banco do Brasil. Pouco discute política, porque o seu partido de coração está lhe dando muito desgosto ultimamente, o PT.
Outra personagem que participa da confraternização quase diária é o Ivã. Homem simples, trabalhador braçal da Companhia de Águas e Saneamento, encobre sempre a calvície com um boné e cumprimenta a todos com afeição e carinho. Não toma bebidas alcoólicas e seu prazer é proporcionado por um café, inacreditavelmente acompanhado por balas de goma.
Quase todos os dias aparece também o seu irmão, que é chamado somente pelo sobrenome: Locatelli. É aposentado da prefeitura e, o que é mais marcante em sua personalidade é o carinho com que trata o meio irmão, já que ambos são filhos somente do mesmo pai. Declara, em público, que o defende em qualquer lugar ou situação.
Já que estamos falando em comportamento, vamos citar o Edson. Falante, crítico e, quando lhe dá na telha, também elogia a pessoa que está à sua frente. Ele é aposentado e trabalha numa indústria de fumicultura. Quando o seu patrão chega próximo à mesa, fica nervoso e começa a errar jogadas fáceis. Eu gosto deveras dele, apesar de me criticar sobre o serviço que estou executando em sua cidade. Sei que ele tem razão e, para que a Curinga Fumos se expanda, precisa que meu serviço termine o mais rápido possível.
Mauro, diferente do Edson, é um cara comedido, que erra jogadas simples em certos momentos. Mas este não tem nada a ver com a chegada do chefe, pois ele é o próprio chefe. Faz jogadas bisonhas quando o celular lhe acena com mensagens. São, em sua maioria, notícias políticas que ele repassa a todos os interessados a sua volta.
Há sempre alguém que discorda de alguma notícia, mas tem um nessa turma que é contra tudo. Estamos falando de Zé das Cabras, alcunha que ganhou por espalhar aos quatro ventos seu gosto excessivo por animais. Se alguém não o quiser chamá-lo de Zé das Cabras, chame-o por Mé ou Bé que ele dará a mesma atenção. Está sempre contando piadas de baixo calão e, de cada nove palavras que saem de sua boca, dez são chulas. É um bom jogador e péssimo peru, sempre dando palpites erróneos e discutindo com quem está jogando. Tem um péssimo hábito: desconfiar da contagem dos pontos, o que faz com que alguns não gostem de jogar com ele, seja a favor ou contra.
Outro que todos gostam é o seu Lindemberg. Hoje, ele merece toda a confiança que lhe depositam. Um pouco diferente do passado, quando começou o seu comércio e ludibriava os colonos, comprando as mercadorias e revendendo-as pelo dobro.
É pai do dono do boteco e trata as pessoas com carinho. O bodegueiro, flamenguista fanático, é o Roberto Claiton. Alguns pegam no pé dele quanto ao atendimento ríspido com os assíduos dominozeiros. Está quase sempre mancando. Não sei se é por causa da gota ou se é somente para chamar atenção. Dificilmente vejo-o sorrindo ou bebendo, mas me falaram que, volta e meia, ele enxuga umas a mais.
Tem outro que é muito simpático e que eu nunca vi beber, e provavelmente nunca verei, pois ele tem diabetes e quer prorrogar a vida por bastante tempo. Estou falando do serrano, o Prudêncio, uma figura serena, sujeito que faz um entrevero (comida à base de pinhão) de tirar o chapéu. Aparece de três em três meses na cidade, pois tem que cuidar da sua fazenda e, consequentemente, de seus gados. Além do entrevero, cozinha outros pratos muito bem, disputando com seu Marcos o título de melhor chef de cozinha.
Marcos é o dono da indústria para equipamentos para fumicultura. Gosta de dizer que é um alcoólico em recuperação e, para não ter recaída, reza todos os dias para suportar o afastamento do vício.
Esqueci-me de dizer que todos foram meus amigos enquanto trabalhei naquela cidade e que, se encontrá-los um dia, tratarei a todos com o maior carinho e reconhecimento com aqueles amigos que mantive relações.
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