A MULHER ENCANTADORA
Acreditei na idéia e escrevi o personagem com toda a dedicação. Tracei seu perfil como uma moça muito recatada, de difícil conquista não se sabe qual o motivo. A moça era muito linda. Parecia uma deusa, e encantava a todas as pessoas que passasse por ela. Tinha um halo de alegria que iluminava o mundo a sua volta como se fosse de sol a sua alma.
Faltava então a história. Eu tive em mente colocá-la numa praia deserta, e a partir daí, tecer uma trama dum conto muito bonito, aonde nele encantaria as pessoas fazendo com que os homens enlouquecessem de desejos e as mulheres de inveja.
Mas a história não vinha... Eu contemplava a cena maravilhosa no meu pensamento, nesse passe de mágica que todo escritor conhece... Vi a mulher como um encanto caminhando pela praia deserta, e em meu pensamento observava que tinha o andar muito bonito. Notei o seu corpo protegido somente por um biquíni, e uma canga transparente que tinha sobre os quadris, servindo de uma falsa saia que dava a ela um toque mais feminino e jovial enquanto o vento batia fazendo o tecido leve esvoaçar.
E eu a contemplava, sem ter como desenvolver qualquer enredo. Somente a contemplava, como se em meu pensamento passasse um filme do qual eu participava.
(Quem escreve me entende. Parecia que eu estava presente na cena, e já percebia que a praia estava toda deserta, e que eu tinha alguma chance como um novo personagem da história).
Ela tirou a canga, deixando totalmente à mostra as pernas bonitas, estendeu o pano na areia, e deitou-se. Percebi que lia alguma coisa. Então me vi chegando perto, e caminhei pela areia quente. O sol, embora fizesse um dia claro, não estava tão forte, e eu não sentia tanto calor. Ela continuava deitada e andei mais decididamente com o passo firme e compassado, calculando esse caminhar como um escritor faz com um personagem. Eu caminhava em silêncio, e quando estava perto, ela me viu e sentou-se na areia. Então eu apressei o passo, e vi quando ela levantou-se e começou a caminhar na minha frente para o outro lado. Apressei mais o passo, mas ela também andou mais rápido. Comecei então a correr, mas ela corria também.
Quando eu me lembrei que eu era o escritor, pensei que simplesmente poderia alcançá-la, quando o meu telefone tocou, e acabou a história...
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Adelmario Sampaio
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