Como começar a vida, tendo um CPF/MF como o meu, iniciado pelo número zero? O zero parece comprometer tudo. Eu já subi o Corcovado e pedi ao Cristo Redentor desconsiderar o zero, mas o zero significa boa sorte, esperança; é o pontapé inicial no cadastro numérico; a matemática existencial surgida na boca de espanto dos homens. Significa o nada, mas também um eco.
O eco sumiu da minha cabeça na hora do almoço. No meio do grande refeitório do jornal, em determinado momento uma funcionária chamada Cíntia molhou sua camiseta branca com suco de uva. Molhou na altura dos seus seios e ela puxou a camiseta molhada pra frente. Quando pude ver a existência e a forma daqueles seios, oferecido ao mundo molhados. Não pude pensar em mais nada. Fiquei à espreita. Ela foi ao banheiro tentar diminuir o roxo, saiu do banheiro com a camiseta ainda mais molhada e neste momento, antes do retorno ao expediente, cheguei para uma conversa e pedi, de modo confuso, o orgasmo da masturbação piedosa, um orgasmo tendo como participação a camiseta marcada de uva e seus peitos. Não sei bem quais foram os meus argumentos. Cíntia sorriu, lamentou a fraqueza masculina e abrimos a porta da saída de incêndio onde ela me masturbou, ora sem pressa, lentamente; ora ligeiramente. Pude beijá-la também de forma delicada, tocar na ponta de seus peitos que, por instantes, me pareceram muitos rijos. Tão rijos que minha vida valeu a pena por causa da ponta do prazer que senti. Depois Cíntia sorriu, limpou a mão com um lenço, deu-me um beijo e retornou ao trabalho. Deixou-me ali encostado na parede como um urso em hibernação.... como a lixeira ao lado da porta, embora lixeiras não amem.
A masturbação não significou nada à Cíntia. Foi apenas um favor. Talvez nunca mais conversemos, pois ela senta do outro lado da Redação.
Penso nas mulheres cariocas dentro de seus biquínis de lacinho...basta um pequeno puxão e tudo pode desabar.
Há outros desabamentos aqui no Rio. Fiquei pensando em meu futuro.
Fragmento do livro: "TOUROS EM COPACABANA"
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