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Infantil-->A QUADRADINHA DE GUDE -- 15/07/2001 - 09:42 (Onã Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lá vem o Daniel, meio molenga, jogando bolas de gude que rolam calçada abaixo... e o moleque atrás, tentando alcançar as bolinhas ligeiras.
ZAPT! ZUPT! Daniel comanda a imaginária guerra de bolitas verdes contra as azuis, até chegar em casa.
É sempre assim, depois da escola, de tardezinha, ele se diverte ao ver as pequeninas bolas, batendo umas nas outras. CLOCK! CLOCK!
Mas, há alguns dias, Daniel levou um enorme susto ao ver, de repente, uma bolinha de gude que veio cambaleando e... CLOCK! Atrapalhou a brincadeira. O menino se assutou ainda mais ao ver aquela bola de gude diferente:
- QUADRADA!
- Mas bola não é redonda? Confunso, Daniel coça a cabeça e pergunta para si mesmo. - Xii! E agora? Não importa, que elgal uma bolinha de gude diferente.
Começa a brincar com a quadradinha de gude, que rola toda desengonçada, meio torta, de um jeito divertido.
- Gostou da bolinha, garotão? - pergunta num moço magricela, com voz estranha, igual a um pato rouco.
- É sua? Desculpe eu... eu... só estava olhando. Para não levar uma bronca, Daniel ri sem graça para o moço, devolve-lhe a bola quadrada e pergunta envergonhado:
- Onde você a comprou?
O magricela, meio corcunda, aproxima-se do garoto, devagar começa a sorrir, dá uma mexida no cabelo despenteado e pergunta:
Gostou do brinquedinho?
Daniel acena com a cabeça que sim. O magricela toma-lhe a quadradinha de gude, dá uma risada rouca e depois fala devagarinho, tentando conquistar Daniel:
- É sua. Pode ficar com ela. Não se preocupe comigo. Tenho muitas delas, você quer outra?
Apressadamente, quase sem voz, tamanha é a alegria, Daniel responde-lhe que quer outras bolitas quadradas. Depois vai se entristecendo e solta um suspiro de chateação:
- Ah! Eu queria sim, mas não tenho dinheiro para comprar, gatei tudo no lanche da escola.
- Que é isto, garoto? Voc}e já é meu amigo e para amigos a gente dá e não cobra nada, nadinha mesmo.
O magrão consola Daniel prometendo-lhe várias quadradinhas de gude, o tanto que ele quiser. Daniel, atraído pela desengonçada quadradinha, segue o moço magricela, que ele "nunca viu mais gordo". Enquanto segue o estranho, vai pensando na reação dos amigos ao vê-lo com um brinquedo diferente, legal e engraçado, como aquela bolita. Pensa na cara de surpresa que todos vão fazer, e ele também pode até vender algumas para seus colegas da escola e vizinhos, já que o magricela lhe prometeu quantas ele quiser.
- Onde você está me levando? É longe assim? Não posso demorar, minha mãe fica muito preocupada.
- Fique tranqüilo, garotão, é logo ali. Você volta logo e com um montão de bolinhas quadradas.
Daniel é gorducho, balofo mesmo e qualquer exercício o deixa de língua para fora. Mas a votnade de pegar as quadradinhas de gude desengonçadas era tanta, que ele seguia o magricelão o magricelão quase correndo. Andaram quarteirões, passaram por rua movimentadas e nada. O sol deu a última piscadela e a lua apareceu, escurecendo o dia.
- Para onde você está me levando, hein? Estou ficando apavorado, está ficando escuro!
- Calma, calma. Pronto, já chegamos. Deixa de ser medrosos, gordinho, tá comigo, tá numa boa.
O garoto pergunta:
- Onde estão as quadradinhas de gude?
Conversa vai, covnersa vem, o magrão vai enrolando Daniel, dizendo que as bolinhas estãpo dentro da sua sacola, que é mágica e que elas ficam quadradas à meia-noite, quando a lua estiver bem alta.
- Enquanto elas se transformam em quadradinhas, vou te apresentar uma coisa legal.
- Não quero nada! Daniel faz birra, daquelas feias, de sentar no chão, bater as pernas e pedir manhê. O magrão fica olhando a cena do gorducho medroso, depois nem liga para ele, distrai-se mexendo na sacola sem parar. Tremendo de medo, Daniel vai se levantando e tenta sair de fininho, pé ante pé, mas é agarrado pelo magricela.
- Calma, garotão, vou te dar uma coisinha que vai te deixar calminho, calminho. Adivinhe o que é? Melhor que chupeta, mais doce que pirulito, tem cheirinho bom e tem gosto de bombom.
- Eu não quero nada. Eu quero a minha mãe. Bem que ela me disse para eu não sair com pessoas estranhas. Faz uma boca enorme, um bico de choro e começa a chupar o dedão.
O estranho magrelo insiste para Daniel experimentar a coisinha legal que ele preparou, mas o garoto não aceita.
Daniel sempre foi medroso: tem medo de cachorro, medo de injeção e muito medo de escuro; ele só dorme com a luz acesa. O gorducho, coitadinho, agora neste lugar esquisito, pede soluçando para ir embora.
Arrepiadinho, arrepiadinho, grita que está vendo cobra, morcego e até dinossauro. tiritando os dentes, começa a dar voltas, sem parar, atrás do madricela, que tenta acalmá-lo.
- Pôxa, gordinho, pára com isto, você já pe grandinho para ficar com medo e dar show de birra. Tome estas bolinhas comestíveis; s~~ao doces como balinhas e não vão te fazer mal nenhum.
Quando está com medo, Daniel fica todo confuso, entende tudo errado. O madricela, percebendo isto, faz o garoto mastigar as falsas balinhas.
- Balinhas, disto eu gosto e estou com uma fome danada. O gordinho medroso começa a mastigá-las de uma vez. Pede balas de morango, de coco, de abacaxi, de mel e amendoim.
- Entra nessa. Toma mais uma de morango que está deliciosa. Esperto, você vai ficar ligadinho. Enquanto o balofo fica distraído com as bolinhas-balinhas, o magrão sai devagarinho.
De repente, Daniel dá um pulo bem alto, como sapo cururu. Começa a rir sem parar, depois grita, como um macaco:
- Estas balas tem um gosto ruim, estão apertando a minha garganta. Minha cabeça... o que está acontecendo com ela? A minha cabeça está crescendo e diminuindo... meus olhos estão pulando, gi-raaan-dooo...
O garoto, todo lambuzado das balas estranhas, zonzo, zonzo, ri, chora, canta, pula, bate palmas e pensa que está voando. Zum... Zum... fica imitando um avião. Depois da sensação de estar voando, de sentir o corpo leve, começa a rodopiar, bater nele mesmo, como se estivesse alguma coisa mordendo seu corpo.
- E esses bichos horríveis? Estão me mordendo. Estou num labirinto... estou dentro de um redemoinho... estou dentro de um liqüidificador... pára... pára... SO-COR-RO!
Termina de rodopiar, sente algo lhe cutucando nas costas. Atrás dele, aparece uma caveira horrorosa. Quando ele se depara com ela, começa a gritar assustado:
- Quem é você? Quem é você?
- Eu sou você amanhã - responde a caveira desdentada.
- Eu não sou você, sua horrorosa!
- Bobinho! Você logo estará assim como eu, você chupou bolinhas que são drogas e não balinhas.
- Mas eu quero continuar assim gordinho, não quero ficar como você.
A caveira, com a cara espantada, começa a mexer a boca desdentada e alerta o garotinho de que as balas que ele chupou são perigosas, porque são drogas e prejudicam a saúde. Explica a Daniel o que acontece às pessoas que usam essas drogas:
Inicialmente, quem usa droga fica parecendo com um bobão como você está agora: sensação de bem-estar, de força, tudo parece maravilhoso e muitos riem e choram sem saber o porquê.
A cabeça primeiro cresce e diminui, depois vai ficando como um parafuso, enroladinha... enroladinha... Os olhos ficam vermelhos como um pimentão e a língua seca e nada pode matar a sede.
Quem usa droga imagina que está viajando. Mas, veja, a viagem é como esta que você teve agora: horrível, o avião na verdade é um abutre. Também podem surgir alucinações aterrorizantes e a pessoa pode parecer um doido e ser levado para uma clínica de repouso.
Tem droga que tira o apetite, faz a pessoa perder a vontade de comer, assim ela se acabará nunca caveira charmosa como eu. Este é o resultado, se você não conseguir escapar desta. Saia desta!
- O que eu devo fazer para não entrar mais nessa? Como eu faço para me livrar de outros magricelas que enganam a gente? Diga-me! A caceira sai gargalhando e Daniel pensa que está perdido.
- Já sei, vou para casa preparar amardilhas para aprisionar aqueles que vierem oferecer esta droga de novo para mim.
Corre em disparada para a sua casa, cai, tropeça... e chega quase sem fôlego. Entra às escodidas no seu quarto e começa a preparar as armadilhas: capacete, roupa de soldado, metralhadora, estilingue, ratinhos de corda, revólver que atira água, corda para laçar. Lambuza o chão com óleo para ficar escorregadio e pimba!, derrubar outros magricelas que aparecerem com quadradinhas de gude ou balinhas de drogas para enganá-lo.
começa a fazer um plano de guerra bem forte, contra as drogas, pois Daniel não quer ficar como a caveira. Ele pára um pouco e começa a imaginar a guerra contra outros magricelas, mas fica amedrontado, pois vê muitos que o ameaçam.
- Em vão, a munição é pouca, logo vai acabar e gordinho como esto, logo ficarei cansado - Daniel pensa. Também existem muitos magricelas e eles podem até tomar as minhas armas. Ah! Já sei. Posso usar a minha arma mais poderosa e mortal. Imagina tirando o sapato e colocando-o nas narinas dos magricelas, que caem desmaiados por causa do xeu chulezinho, que deixa qualquer um tontinho, tontinho.
- Não tem jeito! - suspira Daniel desanimado.
- Eles são poderosos.
- O que eu faço? IDÉIA LUZ! Memória, acorda! Acorda! Preciso de sua ajuda.
- Ô cara, me acordando a esta hora? - responde a memória, sonolenta.
- O que aconteceu com você, falando deste jeito?
- Coitado de você se eu não existisse. Não se lembra que você chupou um bocado de bolinhas? Quando alguém toma droga a memória também sofre, fica patética. Favor me deixar limpinha, ou então, não consigo as informações de que você precisa.
- Me ajuda, veja se tem alguma coisa registrada. Como se livrar dos magricelas, que oferecem droga para a gente?
A memória de Daniel começa a funcionar, fazendo um barulhão, como se fosse um computador em disparada.
- Ufa! Achei. Informação FIL 4:8.
O gordinho corre até o seu arquivo à procura da informação da memória e a encontra dentro da sua coleção de bolinhas de gude. Começa a ler, atentamente, todas as informações e prepara-se para se livrar das drogas, porque tem em suas mãos essas grandes armas:
* Não se deve usar drogas porque elas são ruins e prejudicam a saúde.
* Conversar sempre com os pais, pedindo ajuda para se livrar das drogas.
* Evitar colegas esquisitos e briguentos.
* Não andar com pessoas desconhecidas.
* Não aceitar presentes de estranhos, principalmente quadradinhas de gude.
* Procurar atividades legais, usar a criatividade e o tempo para brincar, divertir-se e estudar.
* Pensar em coisas boas, agradáveis e legais.
Daniel lê novamente todas as informações, começa a chorar porque se esqueceu delas e se deixou enganar por aquele magricela das quadradinhas de gude.
Chora até o nariz ficar vermelhinho e decide conversar com os pais sobre tudo o que lhe aconteceu depois da escola.
- Mas... e se eu levar uma surra?
Tenta sair do quarto, dá meia volta, não tem coragem.
Os pais, que ficaram preocupados e desconfiados com o sumiço do filho, entram no quarto de Daniel e o encontra quietinho, sentado no canto, lendo alguma coisa e chorando sem parar.
Ele entrega aos pais a informação FIL 4:8, eles lêem e ficam sabendo porque o filho está triste, sentam ao lado de Daniel, abraçando-o, dizem com carinho:
- Você precisa de ajuda. Vamos conversar?
Daniel senta no colinho quente da mamãe e vai escutando as palavras boas dos pais. Vai entendendo que pensando em coisas agradáveis e legais, viverá melhor, porque é amado pela família e não precisa de drogas para ser feliz.



Copyright Onã Silva, 1996
































































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