AI, QUE PREGUIÇA!
Nos tempos em que se viajava de trem, o Jardim da Estação era bem movimentado. Pessoas iam esperar os passageiros que chegavam. Gente bem vestida, com malas e bagagens, embarcava para o Rio de Janeiro, São José dos Campos, São Paulo...
No começo do século passado aquele era o jardim onde a sociedade taubateana se encontrava. Senhoras elegantes, carregando sombrinhas, sentavam-se embaixo das árvores. Homens engravatados ali discutiam política.
Bem cuidados, alguns canteiros apresentavam buchinhos e outros, flores coloridas.O prédio da estação, em estilo inglês, dominava o ambiente.
Da porta central descortinava-se a mais importante rua da cidade. Ladeada por palmeiras imperiais, como imponente passarela, conduzia o tráfego de charretes, fordecos e pedestres até o centro.
Dizem que ali também foi o cenário de acontecimentos escusos, na calada da noite. Como a parada do noturno, vindo do Rio, acontecia em horário tardio, armaram uma emboscada para um político atuante na época, que chegaria da capital federal. Descoberta a cilada, seus correligionários trataram de avisá-lo, e ele, então, não desembarcou, seguiu no mesmo trem para São Paulo. Seus companheiros desceram e tiveram um embate corpo-a-corpo com os inimigos. Parece que a luta foi feia.
Anos mais tarde, o jardim foi remodelado e ali criado um minizoológico. Araras faziam um barulhão, macaquinhos, em macaquices, empoleiravam-se nas árvores. Peixinhos nadavam no lago. O público infantil beneficiou-se com a mudança. Durante o dia muitas mães levavam os filhos para lá brincar.
Nós o freqüentamos bastante. Correndo pra todo lado, divertíamo-nos com os macacos pendurados pelo rabo, com as vozes esganiçadas das araras, com os peixinhos pulando pra pegar o pãozinho...
A principal atração - o que mais nos prendia a atenção - era um animal esquisito, até feio. Ele ficava encarapitado nos galhos de uma árvore. E como dormia bastante, fazíamos barulho para acordá-lo. Ao despertar, iniciava a ginástica matinal: esticava demoradamente cada uma das quatro patas. Depois, movia-se com bastante lentidão, galgando os galhos em câmara lenta, na maior demoração. Achávamos engraçado e ríamos à beca.
O bicho-preguiça contrastava enormemente com a agitação das crianças.
Beatriz Cruz
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