Madeira exposta ao canto esperando o artista terminar o café da manhã. Na mesa, partiu o pão e colocou uma porção de ovos fritos e levou à boca o prazer de alimentar ao corpo, corrompido pelos anos e defasado pela ação fisiológica do tempo. Ao terminar, sentiu a saciedade momentànea e levantando-se da mesa, olhou o material de trabalho, mas a inspiração não surgiu de imediato. Ficou por ali e resolveu logo caminhar à busca de ideia que acenasse mãos à obra. Acendeu o cigarro e foi percorrer pelas calçadas a passos tranquilos sem a angústia de retornar ao ambiente de trabalho. O sol começou a aumentar o calor típico de uma manhã de verão quando enfim resolveu retornar. Ao entrar, lá estava ela imóvel, sem vida largada ao chão à espera de nada, porque o nada era o que existia na vida daquele vegetal. O escultor iniciou os trabalhos de esculpi-la e várias lascas delas caiam ao chão ou sobre seus pés. Percebeu que aqueles material lhe seria útil para dar vida à moldura fixa numa parede com o retrato de um passado que o vestia e por ironia da ocasião, lá estava ele despindo o passado daquele outro ser. Ao ver a polpa do pedaço de caule, veio uma vontade de desaparecer daquele lugar por vergonha de transformar a arte da natureza em natureza da arte. E nunca mais voltou a tocá-la, sendo sua companheira silenciosa na arte de sua completa solidão.