OLHOS NOS OLHOS
O LOCAL ERA CALMO, INCRIVELMENTE MELANCÓLICO, ESPECIALMENTE NESSA ÉPOCA. DIAS ENSOLARADOS, MAS, NÃO TÃO QUENTES COMO OS DIAS DE VERÃO. MARCAMOS UM ALMOÇO, NÃO COMEMORATIVO, APENAS NA INTENÇÃO DE NOS ENCONTRARMOS.
FIZEMOS O PEDIDO, E OS PRATOS CHEGARAM. OLHAMOS PARA COMIDA, MAS NOSSA FOME ERA OUTRA. MAL CONSEGUÍAMOS CONDUZIR O GARFO À BOCA. NÃO SENTIA AQUELA FOME, NÃO ERA AQUELE ALIMENTO QUE PRECISAVA.
EU TE OLHAVA NOS OLHOS, E SEU OLHAR ERA ENCABULADO, MAS CORRESPONDIAS, E ENTÃO DIZIAS: - POR FAVOR NÃO ME OLHA ASSIM.
- E O QUE MAIS POSSO FAZER, A NÃO SER OLHAR?
E O ALMOÇO TRANSCORRIA, E A COMIDA DO PRATO, NÃO SEGUIA DESTINO ALGUM.
VOCÊ PERGUNTAVA: NÃO ESTÁ COM FOME? NÃO VAI COMER?
SEU OLHAR INVADIA MEU CORPO, E ATINGIA EM CHEIO, MINHA ALMA.
EU SENTIA FOME. NÃO AQUELA, O PRATO JAZIA INTACTO. FEIJÃO, ARROZ, LEGUMES, FRANGO, TUDO NORMAL, COMO SÃO TODOS OS ALMOÇOS. NADA DE TÃO ESPECIAL, SIMPLESMENTE BOM, NORMAL COMUM.
A FOME É QUE NÃO ERA.
E CONTINUAVA A OLHAR, ININTERRUPTAMENTE, COMO SE PUDESSE TRASPASSAR SEU CORPO NESSA FORMA, COMO SE PUDESSE TOMA-LO SÓ PRA MIM, APENAS COM O OLHAR.
VOCÊ GOSTAVA DAQUILO, MAS AO MESMO TEMPO INCOMODAVA.
ENTÃO VOCÊ PERGUNTOU: - O QUE VOCÊ QUER?
- UM BEIJO! EU RESPONDI.
- AQUI?
- NÃO! TEM ALGUNS OLHARES.
- VAMOS EMBORA?
- AGORA.
SAÍMOS, E NOS REFUGIAMOS NO CARRO. A HORA JÁ AVANÇAVA. TERIA SIDO BOM, SE AO INVÉS DE ESTARMOS ALI, ESTIVÉSSEMOS EM UM CANTO QUALQUER, ONDE NOSSOS CORPOS PUDESSEM SE ENCONTRAR, ONDE NOSSOS OLHARES FOSSEM MAIS PRÓXIMOS.
AO INVÉS DISSO, NOS BEIJAMOS NO CARRO, UM BEIJO INTENSO E PROFUNDO, ONDE ALÉM DOS BEIJOS, SUAS MÃOS AFASTAVAM O VESTIDO DECOTADO, E TOCAVAS MEUS SEIOS.
O TEMPO NÃO PERMITIA QUE NOS ENTREGÁSSEMOS ALÉM DISSO.
FICAMOS ASSIM, COM OS BEIJOS GUARDADOS EM NOSSAS BOCAS, NA ESPERANÇA QUE NOS ENCONTRÁSSEMOS EM OUTRA SITUAÇÃO, ONDE DE FATO, FIZÉSSEMOS UM POUCO MAIS QUE OLHAR NOS OLHOS, PRA APLACAR A FOME QUE NOS CONSUMIA NAQUELE INSTANTE. |
