A noite está por vir,
E com ela um manto avermelhado, róseo, simpático.
Me parece que surge no fim do mundo
(ou será no começo dele?),
só sei que aos poucos ela vai se entregando
à bálsama negridão de um espaço estrelado.
Vem descendo a mesma noite tarada
Que consome todos os dias o dia.
E é tudo negro então,
O silêncio se aproxima
E traz consigo solidão até mesmo onde não há!
Adeus homens, pássaros, carros,
O mundo passa a Ter sentido e ventura,
Não há quem se atreva a perturbar o sono da vida (noite)
Pois em breve alvorecerá um despertar de morte (dia).
É noite,
Que cai em meu espírito
Mais que em meus olhos,
Tudo se acalma, estamos vivos por fim...
Em tudo é noite agora,
Em tudo essa calmaria significante se reflete...
É noite nos homens que dormem, nos que trabalham,
Nos doentes, nos loucos, nos morcegos, nos poetas.
A noite cavalga pela estrada insone,
Eu acompanho o trombar das horas!
Sou alguém disposto a não enganar-me, A não dormir!
A não deixar de lado essa justa demonstração
De que o universo não é um jogo
Que Deus criou numa hora à toa.
De algum lugar do horizonte
Antes avermelhado e não mais visível,
De lá, de onde quase ouço fluir o sentido da vida,
Sinto vir a mim aquela paz
E aquele velho arrepio de pele...
É a glória de saber que enquanto todos dormem
Eu existo!
E que em breve tudo isso morrerá
Para renascer no pôr - do - sol seguinte...
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