Domingo, dia de almoço na casa de vovô Zezinho. No carro nenhuma criança parava quieta. Era briga por causa do banco, das cabeças, das janelas e quem nada conseguia, ficava em pé, pra enxergar melhor. Tanto falávamos que papai, zonzo, resmungava e às vezes, até parava. Quando saía empurra-empurra, a mão de mamãe aparecia e o beliscão doía. Na perna. Fosse de quem fosse. Ela ia na frente, com um bebê ao colo.
Perto de Caçapava, mamãe dizia que vovô acenava lá da varanda, não víamos? No maior esforço, esticávamos o pescoço, e dá-lhe gritaria. Eu vi, eu vi, fui eu que vi primeiro! Mas ninguém via.
Lá chegando, em alvoroço subíamos a escadaria. Vovô Zezinho, vovó Adélia, os tios Dulce e Osvaldo, meu padrinho, nos acolhiam com carinho. Enquanto isso, tia Guiomar revirava os olhos pro ar. Enjoada, não queria nada com a criançada.
Pra almoçar, vovô fazia questão que sentássemos à mesa dos adultos, o que nos deixava orgulhosos. Mamãe recomendava que nos portássemos bem, que não sujássemos a toalha, que não puséssemos o cotovelo na mesa. Falar de boca cheia, nem pensar... Para os pedaços de frango, seu Zezinho dava instruções: podem pegar com a mão, aqui não tem luxo não. Papai ficava branco e suas caretas nos faziam gargalhar.
Contentíssimos, aproveitávamos a farra. O felizardo que tirava o “jogador” saía correndo com o ossinho pra chapa do fogão. Depois, escolhia alguém pra disputar a sorte.
Além do frango, tinha também bifes e vovô, então, passava-me a travessa e um naco de pão. Eu, que gostava tanto daquele “caldinho”, ficava indecisa. Papai não deixava fazer isto lá em casa, faria ou não? Mas vovô insistia, aqui quem manda sou eu, dizia.
Finalizada a salgada parte da refeição, doces apareciam de montão.
Beatriz Cruz
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