A represa na goiabada
Como sobremesa, mil doces apareciam. Figos em calda, goiabada mole e goiabada dura, bananada e marmelada, compota disto, compota daquilo... O que as crianças mais gostavam, porém, era de furar a goiabada e colocar leite no buraco. Ficava uma represa que ia se rompendo e estendendo, a colher tirando as bordas. Mais interessante a brincadeira do que toda aquela doceira. Às vezes tinha também melado com mangarito. Não me apeteciam as “batatinhas”, preferia sorvete no palito.
Acabada a refeição, no jardim de inverno os adultos cochilavam e as crianças no quintal reinavam. Andávamos por um caminho no meio dos canteiros, que em céu e inferno se bifurcava, em determinado momento. Os primos Luiz e Marcos, mais velhos, juntavam-se a nós e organizavam a melhor das brincadeiras. Sentávamos numa balança e eles empurravam, pra cima e pra baixo, o que me dava até tonteira.
Gostávamos também de entrar sorrateiros no porão, pra espiar onde vovó guardava os doces. Dali, abrindo uma portinhola, passávamos ao escritório de vovô. Outra mais e... misteriosamente, estávamos diante da escada, na entrada principal. Eu adorava tocar a campainha e cumprimentar, fingindo que acabava de chegar.
Depois, atravessava a casa correndo, e fazia tudo outra vez.
Beatriz Cruz
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