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Artigos-->Subserviência -- 21/11/2003 - 22:17 (Luísa Ribeiro Pontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Subserviência





Que há de novo na Arte de Ser Português? Nada, que eu saiba. O português não muda, adapta-se. Não evolui, “desenrasca-se”. Se não, vejamos. Portugal tem uma larga tradição de subserviência, daquelas que se cola às roupas como fumo de farturas na feira de Carcavelos e vem nos genes assinalando o grupo cromossónico da raça lusa. Na Idade Média partilhámos com toda a Europa um susseranismo que ainda assim não era vénia e respeito mas medo, imposto pelo terror e prepotência . A vénia e o respeito pelo poder começaram mais tarde e não foram impostos pelo medo, nem por outra qualquer forma de coacção, mas tão só por uma espécie de “basbaquismo” de subserviência imbecil, temperado a dinheiro fácil. A Alcoviteira que arranjava moças para os padres e para os senhores Fidalgos "Eu sou aquela preciosa, que criava moças aos molhos para os Cónegos da Sé."*; o Senhor Morgado que aceitava moçoilas virgens para seu gozo; os camponeses que presenteavam os senhores Doutores com cabazadas de ervilhas, enfim, os porteiros sebosos que usam diferentes ângulos de curvatura consoante a importância daquele a quem abrem a porta... exemplos não faltam. Mas a questão fundamental aqui, está em saber onde pára a moderna subserviência e onde e quando começou o culto dos senhores doutores que todos em Portugal admiram, incluindo os próprios. São por excelência uma classe de prestígio assegurado, na justa medida em que nos são providentes. Podem ser gestores, executivos, administradores, médicos advogados, juristas ... doutores de gabinete, ou simplesmente intelectuais, alguns dos quais políticos.

E como começou a mordomia? Tudo começou nas sogras e nas mulheres dos senhores Doutores que votaram as suas vidas a impor à criadagem o respeitoso título de Sô Doutor: "Maria, faça o pequeno almoço do Sô Doutor e diga que ele não está. O senhor Doutor não pode ser incomodado." A Maria ao telefone: “Lamento, mas o Sô Doutor não está". Depois o tratamento vulgarizou-se e passou a designar todo e qualquer licenciado, mesmo os que o não são.

E todos os dias agora nascem doutores em campos de cebolas adubados de ignorância, mas estes já não devem chegar ao calcanhar dos doutores de gabinete, políticos de carro preto e motorista, homens que gerem as massas, fazem a história e alteram o curso da justiça. É com estes que o português enche a boca toda, embasbacado com a capacidade destes senhores doutores de resolverem as próprias vidas e "lixar" as alheias com artes de palvreado, esquecimento "prolixo" de processos, cabalas, acordos, alcavalas e favores. "Fique descansado. O Sô Tor está a tratar do assunto".

E nessa linha de troca de serviços, nasceram os modernos Alcoviteiros: "O Sô Tor quer meninos? Com certeza Sô Tor é para já... Vamos arranjar ums putos pró Sô Tor. "

E se o Sô Tor é descoberto? "Qual! Arranja-se um bode expiatório e faz-se uma manobra de diversão. Os meios de comunicação fazem o resto. O Shô Tor tem amigos poderosos, safa-se sempre..."

E é assim que aumenta em Portugal a classe dos porteiros sebosos e se mantém a tradição dos Alcoviteiros que arranjam whisky importado, genuínos havanezes, meninas pró bacanal, "putos" para os mais requintados, mas também intrigas, falsos testemunhos, o todo barrado de subserviência e graxa.

E tudo porque o poder é forte e paga bem, ou porque o português não evoluiu e ainda gosta de servir.

No cabo da Europa, vivemos enroscados numa subserviência nacional, qual cão adormecido pronto a saltar à voz do dono. Ah, não me digam que o português não é subserviente!





* Gil Vicente

Auto da Barca do Inferno



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