Enquanto aguardava
No carona, olhei de lado
Um enorme tronco de árvore
Que tomava toda a janela
Do motorista.
Era um pé de fixo
Com suas raízes aéreas,
A meter-se umas por dentro
Das outras,
A sugar a seiva,
A tirar proveito
Pra manter sua existência.
Por um instante,
Me perdi em pensamentos,
E ao invés daquele tronco
Olhava nossos corpos,
Perdidos sobre a cama,
E nossos braços e pernas
Como raízes, a se contorser
A sugar do outro
A melhor seiva que cada um
Pudesse produzir,
E assim, alimentarem
Mutuamente, os corpos sedentos.
E num sublime delírio,
Quase em transe,
Pintei em minha mente,
O melhor quadro que jamais
Imaginei pintar.
Até que o motorista chegasse
E me resgatasse dos meus
Mais íntimos e deliciosos pensamentos. |