PERERÊ
Não ficamos muito tempo no mato, digo, em casa, sem cachorro. Outra vez, Geraldo apareceu com um bichinho pequenininho. Acho até que era filho do Mingau, pensamos em chamá-lo Mingauzinho. Mas logo percebemos que ele estava mais pra Pererê. Não que fosse preto, era branco como o pai e tinha também as manchas marrons. Nem lhe faltavam patas, tinha as quatro. Mas como o saci, era da pá virada.
Ele corria atrás da gente, abocanhava o calcanhar. Doía. Ou então, pulava feito doido, não deixava ninguém andar.
Comia de tudo. Além da ração, livros, jornais e revistas de montão. Estraçalhava o que encontrava. Até um pé de sapato novo que o Paulo deixou no sofá.
Não era para entrar em casa, mas entrava. Aos saltos, subia a escada. Se ouvisse rojão, então, ia se esconder embaixo do colchão. E nem Cristo o tirava de lá, arrastava-se pelo chão.
Como se vira-lata fosse, andava pelo quarteirão, ia e vinha, fuçava e cheirava. Lembrando da carrocinha, passamos a chave no portão. Essa não, dizia mamãe, chega de tirar cachorro do xilindró. Mas dava dó, ele latia e grunhia, até o focinho na grade prendia. E tremia.
Em certa ocasião, um cachorrão ali de perto latia. Pererê se agitava e do outro lado respondia. Pensamos em provocação. Mas não. Desesperado, ele pulava na perna da gente e corria lá pra frente. O outro, na calçada, o rabo abanava.
Um dia, pra ver no que dava, abrimos o portão. Pererê, todo contente, não se fez de rogado, caiu fora imediatamente. Olhou pra seu igual e deve ter feito um sinal. Juntos, rumaram pra esquina e sumiram na escuridão.
Todas as noites, às sete em ponto, lá estava o amigão. Aberto o portão, iam-se os dois pra farra, atrás das cadelinhas de plantão.
Beatriz Cruz
|