Zorro, eu?
Hoje não tem mais essa história de que os “coroas” não podem usar determinadas cores. Eu, por exemplo, adoro o vermelho e não estou nem aí! E se a pessoa for bem velhinha, uma cor forte alegra, tira aquele ar de palidez que os cabelos brancos acentuam. Quando eu passava baton em minha mãe, que estava com oitenta e oito anos, ela mudava de cara. Rejuvenescia.
Meu tio Janjão, que já morreu, não podia ver ninguém de vermelho, logo dizia: “Aonde vai assim, vestido de coisa ruim?” Coisa ruim é o diabo, ele que o carregue, eu pensava...Mas hoje não penso mais assim, e se titio vier puxar minha perna?...
Quase ninguém se lembra dos bebês quando fala de roupas, mas até eles mudaram. Agora usam tonalidades fortes e combinações extravagantes, antes impensáveis. Trocaram o rosa das meninas e azul clarinho dos meninos por amarelão com vermelho, lilás com verde-musgo, rosa- choque ...
Tive uma colega que todos os dias, logo de manhã, soltava coisas engraçadas sobre a roupa dos outros. “Olha ela de azul, branco e vermelho, as cores da França!” ou “hoje o diretor está de terninho alface”... E todo mundo ria. Se alguém fosse de botas, então, ela perguntava logo: “deixou o cavalo lá fora?”
Ao me arrumar, eu sempre pensava num jeito de escolher roupas que não chamassem sua atenção. Então, uma vez fui para a escola de preto, da cabeça aos pés. Calça comprida, blusa, malha, meias, sapatos, tudo. Imaginava que assim não haveria comentário.
Mas não deu outra. Quando pus os pés na sala, ela falou bem alto, para que todos ouvissem:
Olha aí! O Zorro chegou!
Beatriz Cruz
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