Vovó Eudóxia
Era minha madrinha de batismo.Sempre foi muito vaidosa, andava bem arrumada, com saia preta e blusa branca engomada - de preguinhas ou rendas. E sapatos de saltinho grosso. Usava broches, anéis e pulseiras, além de um minúsculo relógio de pulso rodeado de pedrinhas. Tinha na penteadeira cremes para o rosto, talquinhos, pó de arroz, perfumes. Não punha os pés na rua sem estar arrumadíssima.
Era pianista amadora. Todas as noites, quando dedilhava Chopin, juntava gente na rua para ouvi-la.
Perfeccionista. Gostava da comida exatamente do modo que queria. Sabia fazer croquetes maravilhosos. Seu creme de espinafre tinha que ser bem “batidinho”, não podia faltar tomate no arroz, suas torradas eram quase transparentes... Gostava de uma farofa de miúdos de galinha e quando a fazia, me chamava para almoçar. Se eu não fosse, mandava-me depois o “mexidinho”. Às seis horas da tarde sentava-se à mesa para o chá, com tia Maia ou sozinha. Se eu chegasse nesta hora, tomava chá também.
Todas as manhãs percorria o jardim. De tesoura em punho, cuidava dos vários canteiros de flores. Na época de jabuticabas, preparava cestinhas para enviar às primas Lulu e Nina, às freiras sacramentinas, a algumas amigas...
Era bastante severa, principalmente com as crianças. Não gostava de correrias pela casa, mas nos chamava para escutar discos com histórias do Chapeuzinho Vermelho, dos Sete Anões, da Formiga que prendeu o pezinho no floco de neve......
Achava feio mulheres usarem vestidos sem manga ou decotados. Gostava de ir aos bailes do clube, não para dançar, só para “apreciar”. E lá ficava num balcão de onde se vê o salão – chamado Diva aqui na terra: departamento de investigação da vida alheia.
O que ela gostava mesmo era de olhar os vestidos enfeitados e os modernos penteados das moças a bailar.
Beatriz Cruz |