O armarinho das porcarias
Todos os anos, passávamos alguns dias na praia, no mês de janeiro. Minha cunhada com os três filhos e eu com os meus dois.
As crianças adoravam, nem precisavam atravessar a rua para chegar até a areia. Às vezes eles iam e vinham sozinhos, era só passar naquele caminho estreitinho, de terra, coberto por galhos de árvores.
Costumávamos ficar à beira do riozinho, onde eles se divertiam fazendo castelos e pontes. E da água fria corriam para as ondas mais quentes do mar.
De vez em quando, no meio da farra, alguém dizia que ia pra casa, sozinho, pegar um brinquedo, não tinha medo. Logo desconfiávamos. Será?...
É que minha cunhada, magra feito varapau, tinha mania de docinhos, biscoitinhos e salgadinhos, o escambau. E punha tudo num armário da cozinha, lá no alto, onde as mãozinhas nem alcançavam. Mas todos ficavam alucinados, queriam mexer ali. E se não pudessem, subiam em cadeiras, pra ao menos enxergar, e melhor examinar, o que haviam de escolher, na hora do vamover. Mas sempre havia um adulto por perto, era quase certo.
O brinquedo esquecido era a desculpa mais esfarrapada das férias. Quem seguisse aquele que disse, ia logo pegar o danadinho, no pulo. Com os pés na cadeira e as mãos na botija, até tremia de susto, se qualquer barulhinho de passos ouvisse.
Era terminantemente proibido crianças abrirem o famoso Armarinho das Porcarias!
Beatriz Cruz
|