Geléia de mocotó
De vez em quando mamãe fazia geléia de mocotó. Nesse dia, tudo ficava revirado lá em casa. Eu nem imaginava o que fosse mocotó, conhecia a geléia - bonita, delícia amarelada.
Na hora da função, via aquele monte de coisas boiando no caldeirão. Tinha clara de ovos, vinho branco, açúcar, cravo e canela, além de outras ervas. Íamos espiar, mas mamãe não deixava, queria todo mundo longe do fogão. E nos mandava preparar os equipamentos da operação.
Virávamos uma cadeira, de ponta cabeça ela ficava, com um pano amarrado nos pés. Embaixo da cabana, um panelão esperava o caldo fumegante, aos poucos derramado. O líquido passava exalando um cheiro gostoso, e respingava pra todo lado. Quem muito xeretasse podia sair queimado.
Aquilo tudo era demorado, queríamos logo comer o melado. Mas era preciso esperar. Depois de amornadas, as tacinhas repletas de doce dourado iam pra geladeira. Só no dia seguinte podiam ser saboreadas.
Beatriz Cruz
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