Lá em casa tinha geladeira elétrica...
Parece doidice, mas em meu tempo de criança, não era em toda casa que tinha geladeira, mais ou menos parecida com as de hoje. Ou nem havia nada.
Em Caraguatatuba, no litoral, não tinha geladeira na casa onde passávamos as férias. Na fazenda também não, mas lá o leite era fresco, vinha do estábulo, diretamente pra panela. E as verduras, colhidas diariamente, nem tinham tempo de amarelar.
Foi em Ubatuba que eu vi, na cozinha, um armarinho diferente. Tinha uma grande maçaneta na frente e lá dentro, um tijolão transparente. Que diminuía de tamanho ao passar das horas. Todas as manhãs íamos ao porto, único lugar onde se vendia o conforto, o torrão petrificado, pra fazer funcionar o tal armário gelado.
Naquele tempo as mulheres costumavam guardar carnes dentro de um caldeirão, cheio de gordura animal. Era assim: fritavam o toucinho, faziam torresmos e a gordura sobrante servia de conservante. Era usada também para cozinhar de tudo. Arroz, feijão,farofa... E fritar ovos, bifes e batatas. Além de toda essa utilidade, ainda acrescentava à comida consumida um gostinho especial.
Até o dia em que os médicos descobriram que essa gordura faz mal. A manteiga, feita em casa, nadava em água e sal. Logo inventaram, então, a margarina vegetal.
Toda essa trabalheira acabou-se com a chegada da geladeira normal, hoje considerada essencial.
Beatriz Cruz
|
