Quando no chamado triângulo afro-luso-brasileiro, no terreno co comparatismo literário, as nossas poéticas entram em diálogo, a diversidade do discurso une-se para nosso próprio drama. É que nós, poetas, pedalamos os mesmos «círculos girantes», pedalamos as palavras poéticas alternantes da fala.
Contudo, a escrita poética de André Merez não esconde as raízes de um ritmo próprio, de uma sintaxe e de um falar da brasilidade ( «Deixa, Orides,/Que eu te engulo / Como si engole / Uma verdade.»)
O autor não esconde essa brasilidade assumida, quase dialectal, como não nos esconde, na maioria dos seus poemas que pudemos ler, que guarda « um samba no bolso do colete ».
Tudo isto seria previsível, se a poética de André Merez não fosse o contrário ( o inverso ) do que é convencional.
Tudo nesta poesia de VEZ DO INVERSO, livro inédito, se passa na difícil área dos contextos, do avesso do verso, na plenitude da palavra.
«Agora Agora Agora » é a palavra de ordem do poeta, porque a tarefa deste é trabalhar no tempo,
como sugeria Antonio Machado ( O PAI DO MODERNISMO ESPANHOL), com a plasticidade e a aspereza do «Agora», para que este seja eternamente.
Enquadrar André Merez nesta ou naquela categoria escolar, cronologicamente do Modernismo para cá, passando pelos pós-modernismos procedentes da Geração de 45 (Poesia Concreta, Práxis, Tendência, Poesia-Processo ) pode ser fossilar o poeta.
E um poeta que tem um autêntico falar brasileiro -lembra em alguns versos o Mário de Andrade antropofágico - é tendencialmente poeta de comunicação imediata, vivo, dinâmico, prático, indisciplinado em demasia para «flertes gramaticais».
J.T.PARREIRA ( Poeta lusitano ) |